31 dezembro, 2009

Acidente no percurso

Curva forte a esquerda,
No horizonte, em meio a escuridao noturna,
luzes vermelhas cintilam perfiladas na estrada.
Acidente camuflado pela nevoa.
Parada compulsoria no acostamento.
No sitio ficou um pedaco de bolo chocolate
e muito assunto para jogar conversa fora...
A instantes tinha a falsa sensacao de controlar:
velocidade, altitude, direcao, trajeto e limpador de para-brisa.
Agora parado e impotente, dependo da informacao boca a boca.
Tranco o carro e sigo buscando uma coerente justificativa.
Na aproximacao vislumbro o resgate dos "Anjos do Asfalto".
Fazem inveja a qualquer grupo de formigas ou abelhas.
Nao ha espaco para conversa desnecessaria.
Apenas a firme acao coordenada.
Como leoa famigerada, a morte se ocupa do provavel alimento.
Ferro retorcido e carne dilacerada estao simbioticamente mesclados na pista interditada com razao.
Quis fotografar, mas capitulei.
(nao era cena de filme americano de orcamento bilionario!)
Apenas duas fotos timidas e, sem vontade, perguntei se podia ajudar.
A leoa desiste, me fita de soslaio e ruge: Ate breve!!
Ja nao cabia mais, voltar ao sitio...
Um caminhoneiro manobra para retornar na estrada, sem hesitacao.
A conviccao dele me transforma em seu fiel seguidor.
Meia hora por estradas alternativas e trilhas barrentas.
O GPS a todo instante reprogramando a rota desobedecida.
Atras, uma fila de outros carros endossa e tambem nos segue.
Medos e vontades primordiais...
Finalmente voltamos ao liso asfalto na auto estrada.
Este tapete de material fossil que me embala,
e faz esquecer a real fragilidade da condicao humana.
Imprimo velocidade de risco sem medo da morte,
Coracao acelerado parece nao temer a volatilidade de ser.
A possibilidade de desaparecer para sempre...
Duas ambulancias, com os fragmentos humanos,
me ultrapassam e seguem fugindo na perseguicao.
A morte tambem passa, fora do limite de velocidade,
mas nao consegue vaga no hospital.
O plantonista garante que a mercadoria estragada pode ser reaproveitada, reciclada e colocada em uso novamente.
Deixo o carro na garagem e subo apressado para minha redoma de vidro, onde a poltrona me abraca enquanto ligo a TV.
Um minuto de alivio....falso...
Estou refeito e anestesiado pela minha vida viva.
Na lembranca, apenas o bolo de chocolate,
a cadela no cio e a macarronada de improviso.
Tudo ficou no sitio, sem acidente .

[mlfb]

21 dezembro, 2009

Momentos...

Sejam alegres ou tristes,
fáceis ou difíceis,
pesados ou leves,
São todos lúdicos e divertidos.
Truque da vida:
não deixar para rir só depois, no futuro...

[mlfb]

20 dezembro, 2009

Pendências...

Sem despedida, não existe partida.
Permanece presente, mesmo ausente.
Inseparável na mente, o elo permanente.
Relação pendente, na vida insistente.

[mlfb]

10 dezembro, 2009

Ausência Compulsória

Salto quântico para felicidade imaginada.
Ela exibe performance de acrobata da vida!
De súbito sou alijado e fico solitário.
A felicidade dela fica atrelada à ausência do outro.
Lamento, mas aguento.
Navego este hiato.
Legítimo de fato.

[mlfb]

08 dezembro, 2009

Mulheres...& loucura...

Tiroteio na faixa de Gaza...
Sem hesitar o dedo continua colado ao gatilho:
Chuva de reclamações, acusações e lamentações...
Prossegue sem piedade.
Ao fundo toca "Voce não soube me amar"...
- Vc é um louco insensivel !!
Foi a ultima coisa que ela disse antes de bater a porta ou o telefone (nem sei).
Enquanto sangrava lembrei de outra reclamação:
- Vc é um fissurado!!! Só pensa nisso!!
- Me deixa trabalhar, seu louco !!!
Fiquei em duvida se tenho multipla persolinalidade...louca!!

Me apego à matemática e fico com a intersecção das falas:
a loucura...
Depois utilizo análise estatística:
Sou medianamente louco, com função de distribuição normal, e desvio-padrão alto...

Refletindo melhor e com suspeita neutralidade, concluo:
"Tento conversar com quem quer namorar, e namorar com quem quer trabalhar !!!"
Se existe nome para esta enfermidade da psique deve ser PIRO:
percepção invertida da realidade do outro.
O diagnostico não alivia a dor da perda.
Permaneço entristecido.

Tento em vão desfazer o mal estar e procuro uma amiga (e vingativa ex-namorada), que dispara um tiro de misericórdia, corroborando as todas as reclamações.

Visitar uma exposição de Astronomia me deixa revigorado.
Saio consciente de que sou um ínfimo aglomerado de poeira estelar perambulando por um átimo de espaço-tempo.
Usando o encéfalo para reverter o processo de transformação de energia em massa.
No meu caso passa dos limites e se concentra no abdomen.

Na rua um casal, que não conheço, parece solidario à minha dor e me consola com um sorriso mecanico,
imitando a coreografada de vida feliz de comercial de TV.

Publiquei um anuncio no meu blog:
Procura-se Curso de Namoro...sem anseios à pos-graduação...rsrs

[mlfb]

23 novembro, 2009

Vinho ou Cerveja?

De um olhar de soslaio surge a conversa fiada.
Termina num efusivo abraço forte.
Inocente tentativa de apropriação clandestina.
O ar insinua potencial entrelaçamento.
Sem coragem, e congelado pela despedida, eu parto.
A chuva, que desmancha, me escorre pelas sarjetas e bueiros.
Apenas a sutil lembrança digital fica intacta,
perturbando minhas artérias quase cartezianas.

[mlfb]

22 novembro, 2009

Pássaros

Meus passarinhos da treva
voem baixo
respeitem meu cão doente
e minha alma que soluça
Meus passarinhos tenham dó
a dor é tanta
cantem não cantem.

[Francisco Alvim]
Fotos Balada Literária

20 novembro, 2009

Verdade inventada

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada."
Clarice Lispector (1920-1977)

15 novembro, 2009

TEDxSao Paulo

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Acompanho o TED desde 2005.

A chegada do convite TEDxSP me deixa contente, ansioso e cheio de expectativas.
Na entrada, o credenciamento acontece pontualmente.
Ponto positivo!.

As recepcionistas me deixam à vontade e começo a perceber gradativamente, que não sou um solitário de ideias não ortodoxas e pensamentos esquisitos. Somos poucos, porém existimos!
Lentamente o ambiente vai sendo populado. Revejo e conheço pessoas criativas, inteligentes e divertidas: Kanitz, Anisio Campos, Mussarela, Helder, Paula, Fernanda, Ceregatti, Algarra, Ana Paula.
Quem perdeu, procure os vídeos na Internet. Vale a pena inclusive rever Paulo Saldiva, Fernanda Viegas, Francisca Matos, Silvio Meira, Luiz Algarra, Ana Paula Giorgi, Jarbas Agnelli, Owaldo Stella, Rannieri Oliveira...e outros.
Me surpreendo com a fala de Bruno (17 anos!!). Tenho a certeza que nem a existência de 1.000 Sarneys conseguirão sufocar a radical e contundente atitude social deste "moleque", que faz muito mais do que qualquer marmanjo.
Me sinto velho e impotente porque mesmo correndo, só consigo ficar atrás desta juventude "fazedora".
[mlfb]

12 novembro, 2009

Noticiário na TV

Dengosa pode ter vida curta e virar dengue em mulher mimosa.
Roma lidera o campeonato. (isso realmente mudou minha vida!!) E os gregos?!?!?!? Temos que controlar o vetor "Aedes aegypti".
A Copa do Mundo permeia por balas perdidas, e tenta esvanecer as más noticias no jornal da noite. Um colunista de TV finge uma entrevista programada, fazendo a multinacional parecer inofensiva.
Na imagem editada do hospital municipal, o médico diagnostica uma doença. Agrada ao paciente e a indústria farmacêutica. O governo sustenta o aposentado, que vai ao médico para saber onde aplicar sua pensão. Adquire convicto um medicamento desnecessário. Mas garante o retorno do dinheiro ao cofre público.
Os coreanos sulistas perseguem uma embarcação dos nortistas, alegando que a bússola defeituosa apontava na direção partidária incorreta.
A metamorfose da realidade vai ficando na memória e se traduz em história.
Um traficante dispara 5 tiros e mata só 3 pessoas. É condenado a 100 anos por ineficiência no uso de munição roubada. Isso obriga ao exercito aumentar orçamento destinado à reposição do poder de fogo.
A vida reduzida à repetitiva e incansável tarefa de extrair oxigênio do ar e nutrientes da terra, para fornecer energia ao aglomerado de proteína pensante. Lembremos, que pensar não passa de uma sequência familiar de sinapses. Que embora aleatórias, tem cadência conhecida.
Mineiro cardiopata agora "bebe quieto" leite sem colesterol.
O noticiário se repete como se tentasse autenticar a realidade.
Pré-sal não leva em conta o futuro e contabiliza lucro no presente.
A luz apagou. Continuo escrevendo na escuridão. Permanece a falta de luz no fim do túnel. Talvez seja melhor parar. Melhor sentir o escuro que nunca podemos observar.
Sempre enganados pela falsa claridade.

[mlfb]

02 novembro, 2009

Solitário

A solidão é por vezes tão insidiosa, que mesmo uma companhia agradável nos causa tremendo desassossego.

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FDS @ SP

Permeio árvores, que se infiltram a cada passo, dentro do parque estranhamente vazio de figurantes. A caminhada é interrompida por um duvidoso convite para almoço. Sem rumo seguimos para uma exposição , alteramos para um restaurante, depois erramos o caminho e terminamos o almoço ainda perdidos.
Ela não pode deixar o trabalho e nosso próximo encontro capitula. A noite outro hesitante convite. Me resguardo e assisto outro filme. (não quero ser coadjuvante, só aceito script de protagonista)
Na manhã seguinte vago pela rotina sabática. Uma ninfeta desvairada precisa assistir um filme engajado da mostra de cinema. Os personagens do filme pareciam mais presentes que a plateia.
Perambulo pela extensa avenida de vapor de sódio...encontro alguém sem duvidas. Tomamos café, conversamos sobre o espírito, mente, felicidade e sobre a vida. Num momento de extrema cumplicidade compramos DVD pirata dum filme que não resistiu a dez minutos na tela e já nos incitou a protagonizar entrelaçados nossa própria produção. Na cama o roteiro tem sempre o mesmo argumento e a historia se repete. Exaustos adormecemos sobre sonhos imaginados com cenas borradas por uma manha ensolarada.
A noite, uma torrente de mensagens intoxica, com palavras desencontradas, nossas paixões manufaturadas com sentimentos frios e verdadeiros.

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18 outubro, 2009

A paixão é um vício



Para ler a singular entrevista da Helen Fisher, que esclarece o mecanismo da paixão de forma absolutamente objetiva e simples, clique no diagrama acima.

13 outubro, 2009

Verdadeira...mente falsa

Na sala vazia resta apenas um copo semi-cheio ao lado de um pedaço de pizza mordido. Serviram para preencher o hiato de assunto que geralmente antecede a intimidade na alcova.
No quarto um "ménage a trois" com apenas duas pessoas...presentes.
Depois de muito suor, contorções, carícias, gemidos e encenações ela se levanta.
Vai embora acompanhada do ex-amante, cativo no pensamento e no coração.
Saciado, encarando o teto, eu represento apenas uma falsa tentativa de felicidade, que não consegue imitar a intimidade confortável da relação anterior.
Hedonismo imediatista contemporâneo.
A falta de espaço para aprender homeopaticamente o outro.
Nos frustra, e despedaça a vida implacavelmente.
Cada um segue seu destino.
Com muita cota de felicidade para cumprir.
Num famigerado processo seletivo,
que qualifica o próximo substituto para o posto vago.

Saudade de sentir um pouco de felicidade,
ainda que impiedosamente falsa.

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08 outubro, 2009

Separação ambígua

Sem dúvida: era mentira!
Daquelas que a gente jura verdadeira.
O desejo dela era separar.
A atitude era de continuar.
Os dois sem motivo.
Hesitante em fluir uma vida
assenhorada pela paixão.
Entretanto, aceita se debater
no turbilhão da razão, sem sentido.
Economizando beijos clandestinos.
Com escassez de abraços sufocantes.
E abstinência de gemidos sexuais.

Processos metabólicos deficientes,
Repetidos a esmo...
Propiciando uma tola existência mecânica.

Preferimos viver atormentados,
passando uma procuração de vida,
a quem possa se interessar.
Arriscando juntos,
porém separados....

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05 outubro, 2009

Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade

24 setembro, 2009

Orgia e agito na feliz c idade

Sexta-feira, tarde nublada. Impaciente, na fila, aguardo no balcão de atendimento.
Descabida demora me irrita violenta-a-mente...
Todos na fila estão perplexos com a demora.
Pelo burburinho, parece haver uma confusão.

A atendente solicita reforço para o expert do estoque.
O motivo é um casal preparando descaradamente uma orgia no sítio durante o final de semana. Ela com olhar de travessura juvenil sussurra e compartilha indecisões a cada escolha de compra. Ele decidido replica com convicção, cumprindo o papel de provedor da verdade. A cada resposta, o malicioso sorriso de cumplicidade toma conta do ambiente, aumentando sem motivo o tempo para atender a fila, que só aumenta.
A atendente participa do
ménage à trois fazendo intervenções inusitadas. Enquanto ela compra anal-gésico, anti-alérgico e anti-depressivo, alguem na fila resmunga para saber se na sacola tem vaso dilatador e preservativo. Finalmente a lista de compras chega ao fim. Solicitam desconto, como na feira comprando tomates. Pagam no caixa e de mãos entrelaçadas, seguem até o carro entulhado de cacarecos para decorar a parede vazia do sítio.
Imagino a orgia regada com medicamentos e agasalhos de frio...
Parece muito com o jovem casal, que agora a pouco no supermercado,
se beijava lascivamente na fila com uma garrafa de rum e um punhado de petisco barato, numa clara antecipação da noite devassa.
- Hum! Hummmm!

Chega a minha vez, e o farmacêutico pergunta: -- Pois não! Posso ajudar? Constrangido e contaminado pela inercia do meu pensamento, tenho coragem apenas de pedir um inofensivo spray de própolis. Escondo a prescrição médica para hipertensão, no bolso. Sorrio e agradeço com cortesia, dissimulando a dura sensação de envelhecer. Chego em casa febril, mas com ar de vitorioso. Motivado; parto em busca da próxima transgressão que me fará sentir mais jovem. Dormir sem escovar os dentes! Absolutamente inusitado!!! Na manha seguinte, acordo implacavelmente um dia mais velho. Mesmo tendo ido dormir mais jovem...

11 setembro, 2009

Febre? Gripe Suína?

Calor imenso, suando de umedecer a camisa.
Logo em seguida calafrios, temores e tremores.
Será que a "suína" me pegou?
Fico atônito e penso no meu velório.

Quem viria? Os amigos?
Os inimigos para certificar a morte sem direito a ressurreição.
Acho difícil tanta gente, com esse trânsito engarrafado.
Melhor fazer uma transmissão ao vivo pela Web.
Mas quem vai segurar a câmera do celular?
É preciso deixar a configuração do wi-fi escrita em algum lugar...
Tem que ser um site aberto, sem senhas e cadastro,
Quem sabe ganho meus quinze minutos de fama.
Que musica tocar durante a cerimonia funerária?
A nona de Beethoven, Carmen de Bizet, Akhnaten do Philip Glass?
Talvez um rock orquestrado (muito cafona!).
Tem que ter valsa para lembrar Strauss, Kubrick, 2001 uma Odisséia...
Será que minha influencia comporta um rasante da caças da força aérea?
(espero que já tenham chegados os F-18 gratuitos do Lula)
Com quem ficarão os livros empoeirados na estante.
Os de Fernando Pessoa e da Clarice Lispector.
Os "cronópios e famas" do Cortazar.
Páginas lidas, anotadas, apenas folheadas, decoradas, não entendidas e não lidas.
Cada uma me enchendo de inútil conhecimento gratuito.
E as fotos espalhadas nas gavetas da escrivaninha, quem saberá ordená-las?
Os blogs, o site, facebooks, twitters e outros tantos espaços virtuais.....
Os vídeos, as fotos e os textos sem continuidade.
Não posso esquecer de programar o e-mail de resposta automática:
"Não poderei responder seu e-mail pois acabo de falecer, assuntos urgentes favor contatar meu advogado.
Para envio de pêsames utilize o seguinte endereço: jahera_mlbelem@crematório.com.br"
Os menos céticos e inconformados com a situação, favor procurar no Google:
"como se comunicar com pessoas já cremadas -cartomante -informante -despachante".

A maior preocupação é com a disseminação das minhas idéias anômalas...
Quem irá preservá-las ou divulgá-las? Ninguém, pois todos me acham louco de pedrisco.
A teoria do cérebro, da mulher , o exemplo da relatividade, a analogia do teorema da divergência.
Mecânica Quântica, Teoria de Cordas & Processos Estocásticos....
Por fim meu prazer em dirigir, velejar, pilotar...isto não tem como repassar...desaparecem comigo.
E as prestações pagas, impostos sonegados, carnês liquidados,
multas e condomínios depositados.
Seria possível transforma-los em crédito pós-óbito e terceirizar a morte?

Ao fim de tudo eu creio que desapareço junto comigo...

Melhor tomar um antibiótico e garantir o futuro esperado que não vem,
Acordado, dopado pelo turbilhão de ocupações sem importância,
que me asseguram a falsa impressão de ser humano.

09 setembro, 2009

Bate Papo

Tem sopa lá em casa.
Tem café na cafeteria.
Tem carinho na minha mão.
Tem história na minha vida.
Tem vontade no meu não querer.
Tem sedução na minha cabeça.
Tem conversa chata na sua boca.
Tem receio no meu desejo.
Tem bunda gostosa na sua calça.
Tem beijo de língua na sua boca.
Tem seu sexo no meu sexo.
Tem um amanhã na minha vida.
Tem um emaranhado em nossas vidas.
Ter alguem sem ter ninguém.

05 setembro, 2009

Armadilhas, Chopps & Beijos

Final de tarde da sexta-feira,
Transito emaranhado,
Pensamento parado,
Pareço sentado,
Acompanhado,
Chopp gelado,
Coração quente,
Bocas molhadas,
Vidas entrelaçadas,
Beijos guardados,
Armadilhas posicionadas,
Corpos sedentos,
+1 chopp gelado,
a conta,
me conta,
confusa,
intrusa,
me usa.
abusa.
medusa,
me seduza.

04 setembro, 2009

Jantar no Escuro

Olhos vendados, sentidos expandidos...

As cicerones são jovens meigas e psicólogas.
O ambiente à meia-luz de velas.
Num piscar de olhos estou vendado.
Caminhamos a trilha da experiencia cerebral
atravessando a gastronomia de forma libidinosa.
Os sentidos ativos são ampliados pela ausência da visão.
Começamos o experimento gastronômico-cerebral
Atento a cada movimento, me sinto Dr. Bill em "Eyes Wide Shut" do Kubrick
Aprecio atentamente cada movimento do ar.
Quase invejo a sensação de estar cego.
Ao fundo as cordas de um violão vibram em contraponto à mudez da orgia gastronômica, que nos imobiliza a espreita da próxima iguaria.
Com voz suave garçonetes também nos embriagam com textos "ao ponto" da Clarice Lispector.
Pelas entranhas do universo gastronômico vamos saboreando o desconhecido.
Enfim saciados. Somo desvendados.
Pareceu um mergulho noturno em mar calmo, sem lanterna, sem cilindro e sem neoprene.
Vou repetir o experimento, adaptado de forma lasciva e sensual.
Quer tentar?

+info: www.noescurogastronomia.com.br

01 setembro, 2009

AutoStereograma


veja o tubarão nadando em 3D
(fixe o foco do seu olhar a 15cm atras da tela)

19 agosto, 2009

...

Acredito que penso, logo imagino que existo.

17 agosto, 2009

Horário de Almoço

- O almoço está servido!!
Risoto de cotidiano familiar.
Fartura à mesa: filhos, serviçais e a próxima aquisição a prazo.
Resgato minha sensação de refeição em família.
Experimentamos a salada leve e saborosa.
Nossas bocas se enchem de conversa entre uma garfada e outra.
Permeando ludicamente o ritual de alimentação.

Na cozinha claustrofóbica, nossos corpos se roçam.
Emaranhados entre a libido e o suco gástrico.
As vestes arrancadas, fazem emergir os conteúdos camuflados...
Gestos delicados transformam gente fustigada em pessoas saciadas.
Nos afogamos na fome de viver tudo...

O telefone toca.
Do outro lado da linha, alguem vendendo um pouco de felicidade parcelada.
Eu exclamo:
- tem paciência !?!?...

09 agosto, 2009

Auto Conhecimento

Fim de semana chegou.

Uma exposição de esculturas preenche minha tarde de sábado no parque...
Talvez um pretexto plausível para interromper a caminhada entediante.
O acervo me surpreende, me sinto absolutamente a vontade...
As esculturas do Grupo ETSEDRON me inebriam...
Poderia ser uma delas como parte da intervenção.
Enquanto observo e divago, me confundo com a obra.
O cosmo abstrato é um reduto menos ofensivo que o mundo lá fora.

No dia seguinte outra exposição, desta vez científica.
Sobre uma espécie de geleia em formato de couve.
Pesando mil e quatrocentas gramas, geralmente protegida por um capacete de cálcio.
Fico frente a frente com o orgão que nos escraviza.
Dissecado, estudado, e mapeado por séculos.
No fundo não passa de uma torrente elétrica que centelha sinapses sem parar.
Movimenta esta mão e produz um emaranhado que será decodificado por outro cérebro.
Vontade de uma mente visitar outra.
Sinto que teria que me dissecar para conhecer os mistérios dos meus neurônios...

Entretanto meu instinto de auto-preservação me protege desta autopsia.
Ironicamente meus neurônios aprendem a conviver com esta frustração.

28 julho, 2009

FELICIDADE REALISTA

A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor.... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando.
Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade.
Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum.
Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando.
Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado.
E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. .

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.

Olhe para o relógio: hora de acordar
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a.
Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo.
Faça o que for necessário para ser feliz.

Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade..

Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.
(Mário Quintana 1906-1994)

23 julho, 2009

TELAespectadores

Todos sentados à mesa.
Isto costumava ser um encontro de pessoas.
Todos atentos ao interlocutor, respondendo de forma quase servil.
Isto costumava ser uma conversa em torno da mesa.
Parece uma animada reunião de amigos,
não fosse o fato de cada um interagir com alguem remotamente,
através de uma tela de cristal , que lembra um espelho de maquiagem do século passado.
Sinais iluminados são orquestrados por ondas eletromagnéticas cuidadosamente acolhidas.
Ficamos reduzidos a condição de TELA
espectadores.
Rodeados de telas intermediadoras de relações desumanizadas.
Nos reunimos apenas para emprestar à nossa conversa remota,
o calor do corpo adjacente, que transforma o virtual em quase real.

O olhar contemporâneo está digitalizado.
Contato só por
"e-mail".
Abraço só de "
winks".
Beijo só é animado se for
"emoticons".
Sexo só embalado por
"Photoshop".
Falta materializar o virtual...

Minha geringonça portátil me interrompe,
sinalizando o que devo fazer daqui a dez minutos.
Tenho esperança que o próximo alarme,
seja um compromisso sem destino programado.
Com um pouco de gente real a menos de 20 centímetros da minha pupila,
dando a impressão que continuo vivo e com livre arbítrio.

[mlfb]

21 julho, 2009

O Homem lúcido

O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que nunca se entusiasma com ela, assim como não teme a morte. O homem lúcido sabe que viver e morrer são o mesmo em matéria de valor, posto que a Vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um mal.
 
O homem lúcido sabe que é o equilibrista na corda bamba da existência. Sabe que, por opção ou acidente, é possível cair no abismo, a qualquer momento, interrompendo a sessão do circo.
Pode também o homem lúcido optar pela Vida. Aí então, ele esgotará todas as suas possibilidades. Passeará por seu campo aberto e por suas vielas floridas. Saberá ver a beleza em tudo. Terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará. Resistirá aos infortúnios e até às doenças. E, se atingido por algum desses emissários, saberá suportá-los com coragem e mansidão.
 
Morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado por filhos e netos que seguirão sua magnífica aventura. Pairará então, sobre sua memória uma aura de bondade. Dir-se-á: aquele amou muito e fez bem às pessoas.
 
A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem iguale-se sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O homem lúcido que optou pela Vida, com o consentimento dos Deuses, tem o poder magno de alterar esta lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis estarão sempre em maioria.
 
Esta é uma cortesia que a Natureza faz com os homens lúcidos.
 
texto Caldaico(*) do VI século a.C., belamente encenado no filme: Separações de Domingos de Oliveira.

09 julho, 2009

Metamorfose da memória ?

Somos apenas contínuos depositantes de recordações em nossa memória.
Enclausurados no tempo presente, pretendemos o futuro debruçados em lembranças do passado disforme.
O mendigo do outro lado da rua impede minha travessia.
Fico sempre transtornado ao encarar “nosso” Frankenstein social:
um aglomerado de entranhas e sobras desumanas.
Tanto progresso me enfastia....
Permaneço aflito por uma realidade menos glamorosa.
Meu estomago se esforça transbordando suco gástrico.
Estufado e super lotado de nutrientes.
Esbanjando energia e dilatando meu corpo.
O mendigo se fartaria com meu vômito.

Sinto prazer na rotina ritual do “cappuccino after lunch
Desnecessário...
Uma lufada de tempo faz o futuro chegar sem perspectiva.
A metamorfose contínua me renova a cada instante,
fugindo da recordação do meu antigo ser.

Lembro como fui, e me vejo obrigado a continuar sendo: o mesmo.
Contaminado de cenas antigas que se misturam às células recém chegadas.
A descrença religiosa aumenta minha fé.
Esqueletos preenchem pessoas cheias de vontade,
Com simplicidade que me deixa perplexo.
Um garoto viciado em aplausos, morreu.
"Causa mortis": vaias da vida.
O talento anacrônico não foi capaz de salvá-lo.

Quero caminhos, mas vejo exércitos de jesuítas.
Em catequese contemporânea do consumismo espiritual.
Disseminando idolatria do estético delineado por algum designer-ditador.
O vento do norte espalha melancolia.
Homenagem ao conhecimento aprimorado.
Questiono minhas férias de mil e uma noites com fogos de artifício.
Oportunidade de escrever historia,
Perder o “expresso” de peso...
Ligações interrompidas renascem mais profundas.

Um casamento na igreja é abençoado por Deus.
(confortável invenção do homem destituído de responsabilidade)
Um vazamento de gás se expande e não tem vontade de terminar.
Ficamos enlouquecidos, contrariando a evolução das espécies.
Os dedos trêmulos tateiam sonhos de uma vida.
Tumultuo sem líder, sem resistência, com violência.
Uma guerrilha eletrônica espalha políticos sem ética.
O senado os acolhe para procriar "corrupção moralizada".
Um veterano invicto de dignidade arrisca perenidade.
A punição é permanecer entre os vivos,
Enjaulados nesta modernidade e culpados desta realidade.

Uma existência de momentos costurados pela memória...

Hoje é noite para o dia de amanhã,
Assegurado pela fornalha de hidrogênio,
Que frita sem piedade nossos poucos neurônios.
Enlouquecidos e aposentados para não pensar.

[mlfb]

04 julho, 2009

Sobre o nosso estranho universo


Para quem não pode irà FLIP em Paraty...
Uma palestra legendada do Richard Dawkins em 2005.

03 julho, 2009

A Stimulus Story

It is the month of August, a resort town sits next to the shores of a lake. It is raining, and the little town looks totally deserted. It is tough times, everybody is in debt, and everybody lives on credit.
Suddenly, a rich tourist comes to town. He enters the only hotel, lays a 100 dollar bill on the reception counter, and goes to inspect the rooms upstairs in order to pick one.
The hotel proprietor takes the 100 dollar bill and runs to pay his debt to the butcher.
The Butcher takes the 100 dollar bill, and runs to pay his debt to the pig raiser.
The pig raiser takes the 100 dollar bill, and runs to pay his debt to the supplier of his feed and fuel.
The supplier of feed and fuel takes the 100 dollar bill and runs to pay his debt to the town's prostitute that in these hard times, gave her "services" on credit.
The hooker runs to the hotel, and pays off her debt with the 100 dollar bill to the hotel proprietor to pay for the rooms that she rented when she brought her clients there.
The hotel proprietor then lays the 100 dollar bill back on the counter so that the rich tourist will not suspect anything.
At that moment, the rich tourist comes down after inspecting the rooms, and takes his 100 dollar bill, after saying that he did not like any of the rooms, and leaves town.

No one earned anything. However, the whole town is now without debt, and looks to the future with a lot of optimism.

And that, ladies and gentlemen, is how the United States Government is doing business today...

23 junho, 2009

Esquizofrenia Coletiva

Desperdício se ocupar da realidade,
quando todos só se empenham em viver delírios crônicos cerebrais.

Quero minha mentira verdadeira....


[mlfb]

21 junho, 2009

Dúvida....

As pessoas suportam apenas viver o imaginário...
Porque nos ocupar com a realidade?

Talvez para não correr o risco de viver uma mentira...

[mlfb]

12 junho, 2009

Dia do Namoro

"Lá fora está chovendo...."

Depois de acordar com vestígios da procissão de Corpus Christi em São José do Barreiro....

"Mas assim mesmo vou correndo, só para ver o meu amor...."

....Um momento de tristeza

Levanto na esperança de tropeçar no meu presente...

Sou atropelado pelo passado recente de uma bebedeira desmedida, tentativa de esquecer o futuro esperado que nunca vem.

Dia dos Namorados podia ser mais ameno e chamar Dia do Namoro.

Porque a atitude de namorar prescinde de ser namorado consumado.

Traduz-se na apologia do beijo na candidata, um abraço na "prospect", fazer carinho no amor antigo, ou até trocar olhares.

Namoro de mentira,

Namoro de conveniência,

Namoro de casamento,

Namoro de insistência,

Namoro de competência,

Namoro de flerte,

Namoro de passagem,

Namoro de viagem,

Namoro de separação,

Namoro de brinquedo novo,

Até mesmo namoro por incompetência

Também devia ser comemorado o Dia do Amante Solitário,

Por ser genioso,

Por ser religioso,

Por ser perseverante,

Por lealdade a alguém infiel,

Por não querer contraponto,

Por altruísmo,

Por covardia,

Por não querer endereço de e-mail:

maria&joao@02metades.com.br

Por horror a comprometimento,

Por incapacidade de manter solidariedade conjugal,

Por intenção de preservar a espécie humana,

Por não saber que não terá outra chance,

Por menopausa social,

Até por opção...(uma leviana mentira com argumento consistente)

A chuva continua a conta-gotas, interminável e torturante.

Continuo imaginando:

"Ela vem toda molhada e despenteada...."

Estão abertas as inscrições:

Candidatas devem enviar e-mail com pretensão amorosa para:

namorando@sempre.com.vc

06 junho, 2009

Sensações Clandestinas (ECOfelicidade)

Embora reinvente as idéias a todo instante
Percebo um presença insistente arrolada no meu pensamento.
Ela emerge fulminante e compulsória, à minha revelia.
Eu fico sempre vulnerável ao primeiro sinal de desejo.

Os planos para futuro são escassos, no mundo real.
O afago sinestésico deixa marcas indeléveis na alma.
Carinhos e pupilas dilatadas nos condenam e revelam um affair quase virtual.

Num abraço onde sempre falta coragem para soltar.
Ficamos constrangedoramente emaranhados.
Na troca de olhares que denuncia a desconcertante surpresa do inviável, ser possível.

O compromisso de amor oficial dela, nos sufoca e intercepta o conluio visceral.
Ela não sabe ser borboleta, e continua larva rastejante.
Contida no casulo adormecido, com segurança habitual.

Hesitamos.
Escassez de coragem para romper a singularidade de existir,
alem do sabor de um beijo impregnado no córtex.
Mais que isso! Viabilizar o improvável.

Depois cada um segue inconteste seu(m) rumo, economizando felicidade:
Almejando uma vida comum sem direito a plenitude.
Somente flashes de encontros sorrateiros e fugazes.

[mlfb]

31 maio, 2009

Diane Lane

Sexta-feira cinzenta e umedecida pela garoa melancólica.
O prazer de dirigir é triturado pelo transito travado.
Caminho entre ruelas com prédios de luxuosos.
Vazios de gente e repletos de anônimos limpando e seguranças inseguros.

Diane Lane me fita de com olhar lúbrico, mas logo se vira para Mikey Rourke.
A conversa é breve, ele se distrai e também acaba envolvido pelo olhar sedutor.
Ela aperta o gatilho e dispara um killshot.
Uma fina lágrima revela o arrependimento antecipado...

Já é noite no caminho de volta.
Cruzo na calçada com uma mulher "fast-food",
que se empenhou o dia todo para garantir algumas horas de beleza artificial.
Um homem "metrossexual" aguarda sentado no carro também feito para impressionar.
Em algum lugar um restaurante se presta para cenário da noite inesquecível,
Que vira engodo, ao primeiro banho de piscina ou prestação do carro atrasada.
Ela vai querer estar gravida, sem ser mãe.
Em alguns meses e virá o inevitável divorcio do casal,
que nunca se relacionou apenas coreografou.

Deito no leito vazio e sonho acompanhado.
Com olhos quase cerrados percebo a penumbra sorrateira em movimento.
Dança cadenciada de um corpo sem limites.
Pela manhã tomamos café com leite e pão na chapa.
Acordo comendo as migalhas...sozinho...

[mlfb]

24 maio, 2009

Feliz 100 Felicidade

A elegante promotora de venda diz que o “algarítimo” ajuda a traçar o perfil do cliente, eu retruco perguntando se é um “algoritmo relacional”...ela confirma sem dar conta que a “linguagem” vai se alastrando corrompida para alem do MegaSSS no lugar de Mega.

Um folgado estaciona o automóvel ocupando duas vagas.

O carro parece a mais eficiente forma de locomoção individual, mesmo sendo a menos eficaz. Para usufruir desta ambigüidade é mandatório saber dirigir...

Respiro fundo e faço uma lista mental de coisas que me irritam:

  • Quem segura a porta do elevador, invadindo a mobilidade de quem esta acima ou abaixo.
  • Quem expele fumaça, gases e mucos, democratizando compulsoriamente seus dejetos.
  • Quem não pratica cidadania, mas reclama do Presidente.
  • Quem troca “roupa sob medida“ por “corpo sob medida“.
  • Quem considera chique jantar caro com modos baratos.
  • Quem dirige carro importado blindado, com ar de espectador imune ao ambiente exterior.
  • Quem se esforça pela mentira de aparência sem perceber a verdade da essência da realidade.
  • Quem pede perdão na missa dominical, liberando espaço para os pecados da próxima semana.
  • Quem se ajusta à moda sem critério de adequação.
  • Quem prefere romantismo coreografado prescindindo do verdadeiro amoroso.
  • Quem faz de conta, que esta onda verde leviana, salvaria a Terra.
  • Quem não inferiu que gnomo é apenas uma forma didática de diversidade espiritual.
  • Quem é obcecado por acumular riqueza material se escravizando no futuro de forma avarenta.
  • Quem substitui o sistema Heliocêntrico, pelo Umbigo-cêntrico
  • Quem não percebe que, hoje, Felicidade é bem de consumo, objeto de desejo exposto nas vitrines, mas sem direito à defesa do consumidor contra propaganda enganosa....

Incômodo, mesmo, é aquele tipo “xerife do mundo” que não se ocupa da própria vida e fica escrevendo enquanto sua existência vai acontecendo....Vida que é única, sem repetecos ou resignadas ressurreições confortadoras.

[mlfb]

19 maio, 2009

Emergency Care >> STS-61

Date: May 2009.

Pacient Name: "Theo les Kopie Hubble".
Birth: April 1990.
Age: 19 years.
Eyes: silver.
Height: 13.2 m.
Weight: 11 Ton.
Symptoms: blurred vision.
Diagnosis: Cataract.
Ophthalmologists: astronauts Grunsfeld, Massimino, Feustel & Good
Specialty: Surgery in vacuum
Altitude of the surgery room: ~ 500km
Treatment: Cornea transplant
Medication: Advanced & Wide Field Camera
Ambulance: Atlantis
Time of surgery: ~40hs
Postoperative: ~06 weeks

In the atavistic emotion of space missions, these "surgeons" could restore the blurred vision of all humanity, dramatically extending the limits of human perception.

Democratizing, without selfishness, a privileged view from the third rock that orbits a star of fifth magnitude, called Sun.

Every human being muted excited and amazed with the photos of the immensity of the universe dark, ice, gas and stars.

[mlfb]

11 maio, 2009

Balcão de bar

Noite de segunda-feira.
A altura do balcão me transforma em privilegiado observador.
Ela finge interesse e prossegue com a implacável sedução.
Outro casal de fumantes, troca baforadas de fumaça,
sem deixar nenhuma palavra no ar.
O bar que sempre transborda gente, está quase deserto.
Um grupo de amigas troca confidencias publicamente.
O jogo de futebol na TV serve para indicar,
que o nosso tempo também passa.
Agora o interesse ganha ares de legitimidade.
Os garçons recolhem conversa esquecida nas mesas,
e as colocam no lixo, junto com a comida preterida.
O celular dela toca varias vezes a esmo.
Ele sente-se ou tem impressão de ser preferido...dá no mesmo.
Atenção e dedicação, não escondem perverso jogo de sedução.
Sua indiferença mostra que será necessário mais para conquistá-lo.
Ela acende um cigarro, como o casal vizinho,
na esperança que a fumaça possa enfeitiçá-lo
E revelar a languidez escondida pela névoa esbranquiçada
Que na fumaça da noite, se descortina.

[mlfb]

10 maio, 2009

07 maio, 2009

02 tempos


A exposição coletiva reúne obras de Claudio Tozzi, Gilberto Salvador, Luiz Paulo Baravelli, Marcello Nitsche e Samuel Szpigel produzidas nas décadas de 1960 e 1970 em contraponto com a produção atual dos mesmos artistas.

01 maio, 2009

Hesitação de viver

Ela tinha na crença de fidelidade à relação passada,
a certeza de afastar as necessidades do presente,
e consolidar o futuro de forma conveniente.

Ele tinha convicção, que a fúria do instinto
sempre supera qualquer determinação do intelecto.

Ela sempre jorrando uma verborréia quase convincente,
na esperança de criar uma intransponível trincheira de palavras.
Um obstáculo emocional com resistência corporal.

Ele sem pressa, alpinista experiente,
escala monossilábicamente palavra por palavra.

Cada um atendendo seu pretenso destino,
e enganando o divino processo estocástico da vida.

Ambos amedrontados por um beijo lancinante,
que poderia envenenar o confortável devaneio individual.

[mlfb]

30 abril, 2009

QR Code deste Blog



Este é o código inteligente do Blog "Dicotomia da Vida".

Apontando um celular com um aplicativo de leitura de código em execução,
automaticamente o navegador do celular carrega este blog.

Instale um leitor de codigo no seu celular:
http://i-nigma.com

24 abril, 2009

Nesta vida em que sou meu sono,

Não sou meu dono,
Quem sou é que me ignoro e vive
Através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que outrora tive,
Numa só vida.
Mar sou; baixo marulho ao alto rujo,
Mas minha cor vem do meu alto céu,
E só me encontro quando de mim fujo.

Álvaro de Campos 12dez1932 (Fernando Pessoa)

23 abril, 2009

Callas de Bizet & Carmen por Zeffirelli

O trabalho me afoga durante todo o feriado.
Enfeitiçado de tecnologia e negócios inventados.
Vou acomodando minha carcaça na poltrona que aprende meu sentar.
Descanso o corpo, mas a mente continua fustigada pelo entorno.
Reconheço a musica que permeia no ar para impregnar meus neurônios.
Sinto a imaginação conduzida com euforia pela sonoridade da ópera.
Fanny Ardant tem que fazer um grande esforço para não ser perfeita...
Franco Zefferelli empresta sua linguagem cinematográfica para contar a vida de Maria Callas entrelaçada com a história de Carmen.
As vezes eu tenho a descabida percepção que ele escreveu esta opera
para ela cantar e sob medida para eu apreciar.
O ritmo me ressuscita a cada momento que preciso inalar vida.
Contágio neural !
Ninguém permanece imune depois de ouvir Carmen,
cantada por Callas, interpretada por Fanny, dirigida por Zeffirelli.
Esta seja talvez a única forma possível de viagem no tempo:
Eu vivendo o passado como presente e
Bizet presente no meu futuro, como um presente.
Uma simples percepção que viver, transcende estar vivo.
Thanks Bizet.... Callas Forever....

Podemos ser felizes sem ser extraordinários?
Infelizmente não:

Habanera: L'amour est un oisseau rebelle (Carmen)
Pres des remparts de Seville (Carmen & Don Jose)
Chanson Bohéme (Carmen, Frasquita, Mercedes)
Couplets de Escamillo
C'est toi...C'est moi... (Carmen & Don Jose)
Orchestre du Theatre National de l'Opera (Prêtre)

[mlfb]

19 abril, 2009

Sorriso

A refeição não me basta.
Falta alimentar a mente.
Tento uma sessão de cinema.
DIVÃ, um filme nacional,
parece suficiente para uma tarde de sábado.
Uma senhora idosa, amparada pela amiga exalando naftalina,
senta ao meu lado e puxa conversa.
Não consigo retribuir o entusiasmo.
Apaga-se a luz e a voz do Caetano dilui a imagem combalida:
"Leitos perfeitos. Seus peitos direitos me olham assim.
Fino menino me inclino pro lado do sim. Rapte-me, adapte-me, capte-me..."
O roteiro me faz ruminar pensamentos já mastigados,
mas não completamente digeridos.
Na volta para casa, o olhar acostumado à realidade fugaz,
percebe a existência como uma tarde sem fim.

O semáforo vermelho permite um ligeiro flerte.
Ela sente-se protegida pelo próximo instante.
A certeza que cada um segue na direção oposta,
funciona como escudo protetor.
Uma nesga de sedução leve e coreografia ensaiada.
Igual a sensação de atirar em legitima defesa.
Você pratica o crime isento de culpa.
E não precisa aguardar nenhum telefonema...no dia seguinte.

Sinal verde, e um sorriso alimenta a alma esquecida.
Faz andar a vida imobilizada no semáforo.

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Desperdício X Suborno

Ninguém consegue subornar a Morte.

Para que desperdiçar a Vida querendo enriquecer?

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05 abril, 2009

Platéia requintada



E
spremidos lado a lado apreciando minha intimidade de maneira descarada: Paul Éluard, Choderlos, Alberto Moravia, Borges, Richard Bach, Machado de Assis, Lima Barreto, Gore Vidal, Fernando Pessoa e até Clarice Lispector, entre outros que não consigo reconhecer.
Puxo o lençol para me resguardar das criticas ao corpo disforme.
Percebendo minha placidez, Alberto Moravia sussurra baixinho:
- Alguem consegue enxergar o outro lado da cama?
Machado logo responde:
- Não é preciso ver para saber o que la repousa....
Paul Éluard se apressa em identificar uma grande paixão.
Dino Buzzati discorda e diz que são apenas restos dilacerados de uma noite prazerosa.
Onde os gritos e gemidos denunciam a alcova libertina.

Finjo não perceber a bisbilhotice da intrigada plateia encadernada.

- Acho que ela é dorminhoca e só vai levantar mais tarde.
Sem levantar os olhos tenho certeza que foi Richard Bach....

Escondo minha risada, sorrateiramente aperto o PLAY ,
e continuo deitado assistindo o filme "Harry and Sally"
onde Meg Ryan, simula um orgasmo em pleno o restaurante...

[mlfb]

01 abril, 2009

Sonho sob encomenda

A campainha toca no horário previsto.
Um pouco de felicidade clandestina entra com hora marcada.
Deita na rede da varanda com familiaridade.
Nem o "scotch" com muito gelo consegue aplacar a euforia juvenil.
Mãos tateando entranhas buscam aprender o outro.
Nossos corpos se mesclam atônitos no corredor pouco iluminado,
que nos levaria da sala ao escritório.

As vestes rasgadas servem como testemunhas oculares,
do instinto que vai se esparramando impiedosamente.
Sem vergonha de ser mulher,
na pratica do rito animal com êxtase retumbante,
rasga a pele em busca da carne,
penetra a derme com euforia hedonista,
captura o olhar antes que escorra no tempo.
Simples como convém a uma deusa e a um poeta.

Agora me resta apenas duas tarrrachas de brinco,
imoveis sob os lençóis impregnados com cheiro de gente saciada.
Uma lembrança de plenitude e fulminação.

O telefone toca e interrompe meu sonho.
- Alo!! Voce conseguiu comprar as tarrachas que te encomendei ? Sem meus brincos minha vida vira uma loucura!!!

Faço idéia...

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17 março, 2009

Modelos em Física

A modelagem do mundo real está restrita e delimitada ao conhecimento ou a representação matemática disponível. A percepção entretanto transcende este instrumento.

[mlfb]

08 março, 2009

Ausência ansiosa

Meu corpo transita sem minha presença por entre coisas e pessoas.
Sempre apressado, perseguindo no meu olhar a linha do horizonte, onde o amanhã já aconteceu.

[mlfb]


Reciclagem

Sempre reconstruo as habituais sinapses,
Repito a estampa da minha personalidade.
Preciso embaralhar novamente meus neurônios,
para criar um "NOVO EU",
reciclado a partir dos velhos e desgastados....

Reinvenção do individuo ecologicamente correta(o)??


[mlfb]


10encontros

Parece doida.
Dispersa, talvez atônita, e fugaz.
Se diz perdida, esquecida, até dismilinguida,
-não sei..... -sei lá o que.....
Depois emerge criando, desenhando e escrevendo
buscando freneticamente o "quem sou eu?"
Ainda tem medo de conquistar platéia e
insiste em promulgar desalento.
Num movimento lento.
Desvinculada, esquecida,
se encontrando com a vida:
artista,
revista,
à vista,
na pista,
turista,
futurista,
ansiosa,
manhosa,
mãe ousa,
ousada,
pousada,
do nada,
nadando,
nada sabendo,
entendendo,
se conhecendo,
sendo,
relida,
repelida,
repeteco,
no boteco,
sem eco,
repeteco,
tenho um treco....

[mlfb]