A refeição não me basta.
Falta alimentar a mente.
Tento uma sessão de cinema.
DIVÃ, um filme nacional,
parece suficiente para uma tarde de sábado.
Uma senhora idosa, amparada pela amiga exalando naftalina,
senta ao meu lado e puxa conversa.
Não consigo retribuir o entusiasmo.
Apaga-se a luz e a voz do Caetano dilui a imagem combalida:
"Leitos perfeitos. Seus peitos direitos me olham assim.
Fino menino me inclino pro lado do sim. Rapte-me, adapte-me, capte-me..."
O roteiro me faz ruminar pensamentos já mastigados,
mas não completamente digeridos.
Na volta para casa, o olhar acostumado à realidade fugaz,
percebe a existência como uma tarde sem fim.
O semáforo vermelho permite um ligeiro flerte.
Ela sente-se protegida pelo próximo instante.
A certeza que cada um segue na direção oposta,
funciona como escudo protetor.
Uma nesga de sedução leve e coreografia ensaiada.
Igual a sensação de atirar em legitima defesa.
Você pratica o crime isento de culpa.
E não precisa aguardar nenhum telefonema...no dia seguinte.
Sinal verde, e um sorriso alimenta a alma esquecida.
Faz andar a vida imobilizada no semáforo.
[mlfb]
Um comentário:
Belém, entre todas as suas fases de "escrita", esta tem sido a minha preferida. Bem legais os textos!
Acho que passarei a comprar a revista S. A., tenho sentido falta de leituras interessantes, estou mais leiga do que já era... hehe Abraços!
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