07 abril, 2013

Felicidade Camuflada

Salto alto.
Potoc, Potoc, Potoc, Potoc, Potoc, Potoc, Potoc.

Agora parada a garota emperequetada pensa:
O que voces estão olhando !!!!
Será que nunca viram?!?!?!?!
Que culpa tenho eu, se quem projetou esta espelunca não pensou em colocar um tapete (vermelho, é claro!!) para aveludar minha desfilada?
Puxa vida gente, porque vocês não aproveitam o privilégio para idolatrar a minha beleza, elegância e muita finesse!
Que culpa tenho eu se minha sensualidade apetece e minha estética seduz!
Nossa quan-ta gen-te!!!! Se soubesse teria vindo com uma roupa simples, sem luxo, tipo carismática...
Mas onde está o homem que me interessa?
Espero que não seja um destes caras com olhar "maniaco do parque"!
Perto dali, a 10 metros, ele todo sarado (bombado e abobado) desce lentamente o vidro peliculado, sob pretexto de enxergar melhor...em realidade, ser melhor percebido.
O carro é branco, numa tentativa de emular um "taxi" em busca de passageiro que paga com sexo fácil, mal feito, mas invejável.
De óculos Rayban, perfume, pulseira e relógio que sai na revista "Caras", ele pensa (sic!!!):
Mas onde está esta mulher que eu vou pegar para contar aos amigos?
Espero que não seja uma dessas alpinistas sociais, equipada com seios anti-colisão, voz anasalada e olhar de atração fatal !!!
Ele chega e avalia cada bunda.
Pena que ela não era privilegiada na área lombar, passou despercebida.

Ainda desfilando cumprimenta uma amiga melhor vestida, e lança um olhar falante:
-Essa periguete sem classe !!!!!!
O sentimento de humilhação, percorre as vísceras e deflagra uma retirada.
Já em casa, ao celular com outra amiga:
- Táva um saco!! Não tinha ninguem interessante.
Só aqueles caras bobos olhando para minha perseguida, escondida de soslaio dentro da mini-saia justa.
Todos com apetite de prisioneiro em dia de indulto.

Depois de uma rodada solitária de drinks,
ele também volta para casa, bêbado.
Conversa com um amigo no elevador:
- Não tinha uma mulher gostosa!! Só dragão...
Mas tem uma festa de arrebentar amanha.
Vamos pegar todas?

E assim, o processo de busca encantado vai se repetindo desarticulado, prestigiando a mentira da aparência,
Sem enxergar a verdade da essência de cada ator.