27 janeiro, 2007

Existência imaginária

Numa experiência imaginária de contabilidade cósmica:
Posso aniquilar cada estrela do universo, com um grão de areia.
Depois de consumir toda areia do mundo,
A soma remanescente de estrelas ainda é colossal.
Deixa-me um universo de galáxias e aglomerados inimaginável.

Percebo a Terra minúscula orbitando o grão de areia chamado Sol.
Vejo o Homem como apenas um infinitesimal animal terrestre,
com capacidade irrelevante no processo macro-cósmico.

Que importância tem a discussão em disputa pela vaga no estacionamento?
Que diferença faz a intelecção da Teoria Quântica?

Nenhuma.
Não faz nenhuma diferença, para a anacronia do espaço universal,
que se expande continuamente sem sentido.

Viver sem pensar, é impensável.
Continuo vivendo...e pensando...
Para viver sem pensar,
Precisava não saber
que vivia uma existência efêmera, fugaz, e fútil
A qual me apego fazendo parecer importante, eterna e nobre...
Apenas na minha imaginação...

[mlfb]

06 janeiro, 2007

Despedida @GRU


Um video clip, gravado sorrateiramente durante a despedida no aeroporto, impinge maior proximidade que a conversa a dois na penumbra.
Produz um momento de intimidade inatingível mesmo no tête-à-tête.

E' como se atirador pudesse apertar o gatilho, e arquivar o disparo no tempo,
Deixando para vitima escolher o momento para receber o tiro de misericórdia.

A construção lenta e viscosa, de uma saudade lasciva.
Cotidianamente alimentando-se de instantes de ausência.

A foto, reconstrói a imagem da Musa Yankee com profunda nitidez,
mas deixa escapar a alma da Monalisa Tupiniquim.
Faz da pessoa apenas um retrato.

Não me basta a lembrança do passado, na catarse da foto.
Eu quero uma passagem sem volta para viver continuamente no futuro,
transformando de forma definitiva: o presente em passado.
Até que presença recristalize a fluidez temporal novamente.
See you later.


[mlfb]

03 janeiro, 2007

Epigrama* no. 8

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao meu destino fragil,
Fiquei sem poder chorar quando cai.

Cecília Meireles (1901-1964)
(*) Composicao poética breve que expressa um so pensamento principal festivo ou satírico de forma engenhosa.