18 outubro, 2009

A paixão é um vício



Para ler a singular entrevista da Helen Fisher, que esclarece o mecanismo da paixão de forma absolutamente objetiva e simples, clique no diagrama acima.

13 outubro, 2009

Verdadeira...mente falsa

Na sala vazia resta apenas um copo semi-cheio ao lado de um pedaço de pizza mordido. Serviram para preencher o hiato de assunto que geralmente antecede a intimidade na alcova.
No quarto um "ménage a trois" com apenas duas pessoas...presentes.
Depois de muito suor, contorções, carícias, gemidos e encenações ela se levanta.
Vai embora acompanhada do ex-amante, cativo no pensamento e no coração.
Saciado, encarando o teto, eu represento apenas uma falsa tentativa de felicidade, que não consegue imitar a intimidade confortável da relação anterior.
Hedonismo imediatista contemporâneo.
A falta de espaço para aprender homeopaticamente o outro.
Nos frustra, e despedaça a vida implacavelmente.
Cada um segue seu destino.
Com muita cota de felicidade para cumprir.
Num famigerado processo seletivo,
que qualifica o próximo substituto para o posto vago.

Saudade de sentir um pouco de felicidade,
ainda que impiedosamente falsa.

[mlfb]

08 outubro, 2009

Separação ambígua

Sem dúvida: era mentira!
Daquelas que a gente jura verdadeira.
O desejo dela era separar.
A atitude era de continuar.
Os dois sem motivo.
Hesitante em fluir uma vida
assenhorada pela paixão.
Entretanto, aceita se debater
no turbilhão da razão, sem sentido.
Economizando beijos clandestinos.
Com escassez de abraços sufocantes.
E abstinência de gemidos sexuais.

Processos metabólicos deficientes,
Repetidos a esmo...
Propiciando uma tola existência mecânica.

Preferimos viver atormentados,
passando uma procuração de vida,
a quem possa se interessar.
Arriscando juntos,
porém separados....

[mlfb]

05 outubro, 2009

Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade