23 outubro, 2011

Encontros clandestinos

Telefonema internacional vendendo fortuna fácil.
Um velho truque do mercado financeiro,
que usualmente rechaço de forma hostil.
O assédio daquela voz sensual,
sempre no momento inadequado.
Terna ela persiste,
e persevera como predador paciente.
Seduz, modula voz e atenua minha evasão.
Vamos nos tateando lentamente.
Passamos do dinheiro, para algo verdadeiro.
Empatia digital,
Platonismo virtual,
transformando espaço em tempo.
Teoria da Relatividade na rede.
Sem arrogancia,
quase sem ganancia.
Ela me cativa homeopáticamente.
Os fusos são confusos.
Sou acordado no meio do sonho,
pelo meu próprio sonho.
Tagarelamos como velhos cúmplices na vida:
os blogs, os livros, os poemas, a arte,
tudo é descoberta lúdica de pertinencia.
Hoje já virou hábito.
Quase rotina diária.
Proposta de casamento no escuro,
amigos comuns,
albuns de fotos,
transito local.
Desligo o fone,
enebriado pelo "eu" do outro lado da linha.
Um ego fora de mim.
Um flerte comigo.
Contigo,
Consigo,
Antigo,
Abrigo,
Te ligo.

16 outubro, 2011

Momento

Passando pela janela, a garôa me observa.
Aqui dentro, chove pendências.
Não fui ao médico para consulta de rotina.
Meu único mal é procrastinar a rotina.
Não arrumei os livros,
embora suspeite da existencia de cupins na estante.
Não cumpri a agenda de tarefas inúteis,
que dão a falsa impressão de utilidade.
Ainda não fiz a mala para viajar à Lua,
falta dinheiro na bagagem.

A energia elétrica voltou a circular pelo bairro.
Nem precisava...logo agora, que eu ia meditar.
Teu sorriso permeia minha memória.
Resíduos do teu corpo encharcam minhas cobertas.
O acalanto da tua voz ao telefone,
quase foi suficiente para diluir a saudade.
Sei que vamos ao cinema mais tarde,
mas eu te queria agora.
É como parar de respirar:
podemos nos conter por um tempo,
depende apenas de folego na vida.
Mas logo depois a gente precisa respirar o outro.

Em mim a ansiedade borbulha: sinto saudade no futuro.
Volto a dormir no quarto escuro.
Porque meu sonho é pensamento puro,
que jamais ultrapassa o muro.
Te encontro mais tarde,
quando eu serei outro eu,
porque este de agora, já morreu.