31 dezembro, 2009

Acidente no percurso

Curva forte a esquerda,
No horizonte, em meio a escuridao noturna,
luzes vermelhas cintilam perfiladas na estrada.
Acidente camuflado pela nevoa.
Parada compulsoria no acostamento.
No sitio ficou um pedaco de bolo chocolate
e muito assunto para jogar conversa fora...
A instantes tinha a falsa sensacao de controlar:
velocidade, altitude, direcao, trajeto e limpador de para-brisa.
Agora parado e impotente, dependo da informacao boca a boca.
Tranco o carro e sigo buscando uma coerente justificativa.
Na aproximacao vislumbro o resgate dos "Anjos do Asfalto".
Fazem inveja a qualquer grupo de formigas ou abelhas.
Nao ha espaco para conversa desnecessaria.
Apenas a firme acao coordenada.
Como leoa famigerada, a morte se ocupa do provavel alimento.
Ferro retorcido e carne dilacerada estao simbioticamente mesclados na pista interditada com razao.
Quis fotografar, mas capitulei.
(nao era cena de filme americano de orcamento bilionario!)
Apenas duas fotos timidas e, sem vontade, perguntei se podia ajudar.
A leoa desiste, me fita de soslaio e ruge: Ate breve!!
Ja nao cabia mais, voltar ao sitio...
Um caminhoneiro manobra para retornar na estrada, sem hesitacao.
A conviccao dele me transforma em seu fiel seguidor.
Meia hora por estradas alternativas e trilhas barrentas.
O GPS a todo instante reprogramando a rota desobedecida.
Atras, uma fila de outros carros endossa e tambem nos segue.
Medos e vontades primordiais...
Finalmente voltamos ao liso asfalto na auto estrada.
Este tapete de material fossil que me embala,
e faz esquecer a real fragilidade da condicao humana.
Imprimo velocidade de risco sem medo da morte,
Coracao acelerado parece nao temer a volatilidade de ser.
A possibilidade de desaparecer para sempre...
Duas ambulancias, com os fragmentos humanos,
me ultrapassam e seguem fugindo na perseguicao.
A morte tambem passa, fora do limite de velocidade,
mas nao consegue vaga no hospital.
O plantonista garante que a mercadoria estragada pode ser reaproveitada, reciclada e colocada em uso novamente.
Deixo o carro na garagem e subo apressado para minha redoma de vidro, onde a poltrona me abraca enquanto ligo a TV.
Um minuto de alivio....falso...
Estou refeito e anestesiado pela minha vida viva.
Na lembranca, apenas o bolo de chocolate,
a cadela no cio e a macarronada de improviso.
Tudo ficou no sitio, sem acidente .

[mlfb]

Nenhum comentário: