Fragmentos de textos interessantes de autores renomados e também de minha autoria, depositados aqui ao invés de entupir a caixa postal dos amigos.
21 dezembro, 2010
Re-ferida
Nova contusão, outra decepção.
De novo perdão.
Sem revisão.
Dói novamente, mas passa lentamente.
Alerta nova mente,
que não mente.
Desmente,
demente,
da mente,
valente,
ardente.
Insistente amante.
Beijo errante,
morno e combalido.
Parece desodorante vencido.
20 dezembro, 2010
Delivery Love
não digere "Fast-Love",
ainda que embalado em isopor.
Não esfria, mas causa dor.
15 dezembro, 2010
07 dezembro, 2010
Exame de coração
Consistência: em processo de amolecimento.
Frequência: alterada, batimento mais confiável e transparente.
Irrigação: Constante, persistente, intensivamente monitorada
Arritmia: somente quando exposto a ritmo apaixonado.
Durante teste envolvimétrico, sob esforço, apresentou um padrão de performance extraordinário, especialmente em rendição com plenitude.
Diagnóstico:
Órgão em processo agudo de suavização homeopática decorrente de aparente estado de inebriamento ativo. Indícios de contaminação afectuosa que pode ter se alastrado durante os últimos 10 meses.
Profilaxia: viver um amor verdadeiro (antes de dormir)
01 dezembro, 2010
Delírio @ 05:00 a.m.
Lambuzado na lembrança.
Um espasmo derradeiro aspira alma...
e não descansa.
26 novembro, 2010
Contrapontos
Ela em distanciamento.
Falo do meu querer,
Ela diz sobre o que não quer.
Confesso incerteza com afeto,
Nela o vinculo é desafeto.
Envio flores,
Ela fala de amores.
Somos cumplices só no leito,
que por descaminhos foi desfeito.
Quero um encontro a dois,
deixando a vida para depois.
25 novembro, 2010
Perdas
Restou apenas um sandwich frio de mortadela.
Espreitando minha fome de soslaio.
Para alimentar barriga e alma...
Digestao dificil.
Dói, mas passa.
Regurgita e mastiga, que passa.
Uma risada transpassa.
Um beijo repassa.
Relaça.
Enlaça.
Amordaça.
19 novembro, 2010
Telefonema
A transa com variedades amenas e tórridas, recebeu nota máxima, atribuida ao contínuo aprimoramento da entrega amorosa verdadeira!!...
Na noite seguinte foi dançar com as amigas, amigos, convidados e pretendentes.
Um Bemdito entre as mulheres se esforça para finalizar a conquista. Muita conversa, selada com um ósculo promissor e a ingrata missão de agendar a troca o mais rápido possível...dentro do prazo estipulado pelo Código do Consumidor.
No final da tarde do dia seguinte, um telefonema quebra o silencio ensurdecedor:
Tudo bem? Para mim tudo ótimo. Tive que trocar o meu presente de aniversário!
Eh! Troquei aquele amor antigo por outro mais moderno, mais jovem e espiritualizado.
Olha, podemos conversar pessoalmente caso você precise entender o motivo.
Por mim podemos deixar para próxima encarnação aquilo que já desencarnou.
Afinal nunca te prometi mais que aguardar ao meu lado, até minha próxima escolha.
Dói, mas passa. E se não der para suportar, repassa.
Pois é, perdi meu tesão por você na pista da balada. Caso você ache, pode deixar na portaria do prédio.
Mas não se preocupe porque já arrumei outro ali mesmo.
Aquele amor estava muito acelerado.
Substituí por um mais calmo, maleável, menos verdadeiro, convívio simples...plug and play.
Olha, toma analgésico que melhora a dor de cotovelo.
Hoje não dá, estou muito cansada, me deixa dormir.
Se quiser (me) comer tem um coração congelado no freezer e um Alfajor sobre a mesa.
Dói, mas passa. E se não melhorar, repassa.
Porque você não convida sua "ex" para me substituir?
É produto conhecido, fácil e barato.
Para evitar confusão de nomes, chame de "meu amor" quando gritar de prazer.
Ah! Você merece alguém muito melhor que eu.
Parece cliché, mas juro que inventei agora!!
Dói, mas passa. E se não aguentar, repassa.
Alô! Alô! Você está me ouvindo?
Essa droga de celular...nunca funciona quando a gente precisa.
Alô! Alô!
Continuo mudo.
Mudo de posição.
A fila andou.
Próximo, por favor!!
05 novembro, 2010
Passa tempo
Acordo imerso em solidão.
Me levanto, fundindo sonho e realidade
Ao telefone uma mensagem consagra distanciamento.
Agitação do trabalho camufla 10...interesses.
Esperança está em coma induzida.
Logo, ressurreição em vida.
30 outubro, 2010
Manhã nublada
Me obriga mentir,
para entender o verdadeiro.
Velório sem corpo.
Um desabamento emocional,
cria emergência na convivência.
Vida compartilhada engolida por cratera faminta.
A solidão irrompe veias e irriga pensamento.
Sinapse diluída em vento.
Solitária sensação de vida.
Onde metade parece o todo.
Saudade escurecendo amanhecer.
Frio, cinzento e rabugento.
Peço socorro no balcão da padaria.
Vem um café amargo.
Capto um olhar alegre, um sorriso indeciso.
Nossa conversa coloquial cria alento.
Então, migalhas se vão como vento.
[mlfb]
15 outubro, 2010
Sufocado
Onde meu silêncio ecoa.
Fluindo pela lembrança de uma vida alheia.
Precisando ressuscitá-la amanhã.
Urge viver modesta existência.
Que de mim se ausenta,
e aspira reviver no futuro, um passado singelo,
que já não se faz presente.
12 outubro, 2010
100chance
Buraco espiritual?
Pensamento solitário.
Presença roubada
Ausência configurada.
Concessões ignoradas.
Justificativas contundentes.
Ainda assim a mente vacila,
num desleixo sem tamanho,
com a própria existência.
Corpo só mexe,
por inércia da vida.
Realidade acinzentada,
com sonoridade atenuada.
Lembrança colorida,
turva o pálido presente.
Nenhuma resposta cicatriza rejeição,
Construida na fertilidade.
A vida nos observa, abandonando o inviável.
Vencendo a síndrome de abstinência do outro.
Substituindo o 'juntos' por 'eu, comigo'.
Exaurindo turbulências, apaziguado pela fé.
Devoção para ver o que ainda não aconteceu.
Sem temer o equívoco da certeza construida,
sob pilares imaginários.
[mlfb]
Saco na viagem
Depois de exaustiva peregrinação (não religiosa), consigo uma passagem para voltar antes do final do feriado emendado. A solução conveniente ao bolso, logo se mostraria desconfortável para o corpo.
Na poltrona contígua um senhor japones, seguramente com mais de setenta anos, tinha conversa educada, modos tranquilos e muita estória para contar.
A cidade de Londrina fica para trás em minutos.
Na rodovia o ronco do motor quase despercebido, prometia uma viagem monótona.
Um estímulo sonoro se destacava no silencio. O farfalhar de um saco plástico manipulado histéricamente por uma senhora afoita, amedrontada e irriquieta no banco de trás.
Logo outro passageiro solidário à senhora inicia uma ressonante roncar.
Pista ondulada provoca ruído na carroceria.
Em instantes esta orquestra contra o sono alheio, começa a emancipar minha irritação contida.
Advirto a senhora, que me olhando ostensivamente, nem responde, como é costume dessa gente mal educada.
Continuo inconformado e pensativo: o que será que tem dentro da sacola? Porque mexe e remexe?
Ensaio outra repreensão verbal...sem sucesso.
Tento um truque de concentração, mas minha mente inquieta não se aquieta.
Farfalha, farfalha, ronca, farfalha e range.
Uma orquestra ruidosõnica contra o meu sono reparador.
Farfalha, farfalha, remexe e mexe...ronca e farfalha.
- Senhora! O barulho está me incomodando.
A reposta foi uma mímica lacônica, que no meu entender alegava mal comportamento do saco...
Fico calado e continuo apoquentado.
Silencio, silencio, FARFALHA !!!
Incrédulo tento outra vez.
- Senhora, esta não é a sua casa, está incomodando. QUERO DORMIR um sono honesto !!
- Senhor, pode deixar ….Silencio, farfalha, silêncio, farfalha.
Silêncio, farfalha, farfalha, farfalha.
Senti falta do ronco !!!
Vencido, opto por escrever este texto,
para me inserir no contexto.
“Era uma vez uma mexeção em saco plástico,
que virou encheção de saco piroclástico...”
03 outubro, 2010
Ponto final
Depois, uma conversa amarga no balcão do bar.
Na cama, como sempre, enrosco selvagem.
Pela manhã um beijo frio,
Contrasta o calor das cobertas.
Um olhar de soslaio antes de fechar a porta.
Um romaneio com 10 razões, onde uma só basta:
- Não te quero mais!
Parece pouco, mas o incomodo é grande.
Ponto final.
Estamos livres do compromisso.
Acorrentados ao descompromisso.
29 setembro, 2010
Desacoplamento
Na escassez de cumplicidade,
Há reciprocidade no querer o não querer do outro.
Num desnecessário contraponto.
Degradando o desafeto,
em dissimulada desaprovação latente.
Para justificar o escapismo:
um silencio de monge.
Então aqui, fica muito longe.
17 setembro, 2010
15 setembro, 2010
Declaração de 10amor
Tanto faz, para quem nunca fez.
Seu insuportável ceticismo,
quando dominado, causa prazer interminável.
Mas vasculha entranhas e semeia dor.
Falta algo !
Só pode ser: amor.
31 agosto, 2010
Poeira cósmica
Abandonar a realidade,
Legitimar devaneio na mentira:
Intrínseca habilidade humana.
A matemática sempre improvisa um modelo,
que a realidade se esforça em cumprir à risca.
Natureza regularmentada,
Colorida artificialmente.
Impotentes olhos que enxergam,
apenas aquilo que a mente, que mente, quer ver.
Envelhecemos confusos.
Priorizando o pensar.
Ignorando o sentir.
Encolhendo a emoção.
Refazendo a percepção.
Nestes ciclos de vida e morte,
repete-se o ritual:
desagregar átomos ordenados por um cromossoma qualquer,
e recombiná-los para formar novos aglomerados, novos cérebros.
No defunto, o pensamento deixa de existir.
Morre a sinapse não compartilhada.
O imaginário desaparece.
Porém a matéria continua transmutada, reciclada.
O bom censo de Lavoisier...Contra o censo espiritual...
O tempo, uma imaginação com memória,
nos reduz à intermediadores de processos naturais.
Seguimos como miríades desorientados.
Transfigurados pelo próprio cérebro.
A procura de um significado teórico para vida,
Ignorando a falta de sentido prático.
Vamos nos esmerando em:
Ser feliz.
Esquecendo de viver.
Disputando o primeiro lugar,
indo e vindo sem rumo.
Continuo com fé.
Seguindo o processo estocástico universal,
desmedidamente inconformado
pela falta de justiça inventada,
pelo excesso de morte imaginada,
pela onipresença da miséria instaurada,
pelo humano desumano.
Não importa!!
Somos todos mentiras,
do mesmo saco de poeira cósmica.
09 agosto, 2010
Vida binária
disparamos rumo ao desfiladeiro eletronico.
Computadores-servidores aglomerados em fazendas digitais.
Roteadores reencaminhando caoticamente bits de fé,
emoção , ou um pedido de medicamento raro.
Correntes do amor, de dinheiro e até de encontros casuais.
Relacionamento fast-food na Internet,
daquele tipo que caiu na rede é peixe de banda larga.
Amor digital sem conta-gotas, só download torrencial.
Democratiza estupidez e desinformação.
Selva digital repleta de animais convencionais.
Vídeo, imagem, e até pulseira eletronica:
Até almas perdidas, são localizadas no Google.
Sem encontrar a si mesmo,
os exibidos sem camisa e de óculos escuros,
compõe o mosaico de ladrilhos desumanos.
Na memória, 5.000 músicas para ouvir,
sem parar, até a outra geração.
Na agenda 500 endereços desconhecidos.
Resultado: ZERO na busca de amigos na web.
A foto retocada e antiga, vende mentira global e atualizada.
Sem saber ser, segue aprendendo a legitimar a existencia.
Teclando, querendo ser mais que um conglomerado de bits.
Classificado, taggeado, emocionado e com um perfil falso.
Porém verdadeiramente digital.
Um avatar perfeito.
Um conforto no peito.
Uma Second Life superando instinto de vida.
Perpetuando a personalidade digital.
Sinapses transformadas em combinações binárias
Vontades e desejos, virtualmente vivenciados.
Tela plana exibindo em 3D vida primitiva e humana,
transformada em "memes" digitais evoluidos.
Viciados em bits e bites.
Alô!1 Hell0....0101001001010001001000............
26 julho, 2010
15 julho, 2010
14 julho, 2010
Astral ausente
soca a mente,
que ocasional mente,
Gente ausente.
Animal presente,
Instinto repelente.
Anal, anual.
Vital, promocional,
de bom astral,
mentira matinal.
10 julho, 2010
Verdade inventada
Eu não: quero uma verdade inventada"
[Clarice Lispector]
29 junho, 2010
quasenfarte
A bala espoca.
Abala a presa.
Num imprevisto, já previsto.
Retumbante pulsação.
Comprime o sangue cálido por veias obstruídas.
Diástole empurra sístole além do vital.
Sobrevida milagrosa.
Um pouco paz.
Escombros numa relação fugaz.
25 junho, 2010
Bebê roubado ?
Sempre a monotonia do breu solitário.
Dentro de alguem,
esperando deixar de ser ninguém.
Movimento lento.
Aperta, contrai, contrai.
A luz atrai.
Saí debutando vida e choro.
Passando de mãos em mãos.
As ultimas eram sorrateiras.
Alguem me encara chamando:
- Meu bebê !!!
Sinto falta da minha piscina particular.
Outro alguem grita em desespero:
- Jesus !!! Meu filho !!!
Desde cedo, instaurada confusão mental.
Afinal sou bebê, jesus ou filho ??
Tanto faz.
Tenho fome.
Quero uma teta cheia para me suprir.
É para essa que vou sorrir.
24 junho, 2010
23 junho, 2010
Incursão na faixa de 'Kaza'
Comida congelada no freezer.
Calça suja no cesto de roupa.
Água fresca na moringa.
Pão com graõs no café matinal.
Escova nova na pia do banheiro.
Invasão de territórios desocupados.
Sem resistencia. Danos mitigados.
Espaço e vida compulsóriamente partilhados.
Passo o passo.
Dancei livre, sem descompasso.
20 junho, 2010
Amanhecendo
Teu cheiro no leito ainda quente.
Permanece a lembrança do teu corpo macerado.
Sol emergindo, e parte de mim já se foi.
Esvaindo pelo turbilhão latente.
[mlfb]
19 junho, 2010
Traição
13 junho, 2010
en@moLHados
Com minhas entranhas esfoladas e viscosas.
Durmo em você e amanheço retorcido.
Pasta "al dente",
Passeio no parque.
Banho a quatro mãos.
Tamanho enrosco, de quatro pés.
Ventrículos, bocas e pele.
Corpos mesclados sem limites.
Adormecidos e combalidos.
Sem perceber, envolvidos.
08 junho, 2010
Caminhos
05 junho, 2010
Insônia
Sem você, vazio.
Textura de arrepio.
Partida de urgência.
Num dia de emergência.
[mlfb]
31 maio, 2010
Momentos privados
09 maio, 2010
10 compromissos
Foi dançar com amigos.
Foi jantar com amigos.
Foi viver com amigos.
Com o amante fez todo o resto.
Com palavras se desculpou,
mas no comportamento certificou a dicotomia.
Parece que a disposição já foi faz tempo.
O desapego e´ sua marca registrada.
Agora, um falseio na defesa do outro.
permite virar a mesa,
para esquecer a culpa,
e partir sem memória,
para um novo 10compromisso.
07 maio, 2010
Movimento dos barcos
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo
Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento
(Jards Macalé e Capinan)
24 abril, 2010
20 abril, 2010
Reflexão nas alturas (pós Earth Day)
- Senhor, ou joga fora ou bebe tudo!
Líquidos a bordo nem pensar…razões de segurança.
Preferi sorver toda aquela água quente num só gole…e passei pelo primeiro pelotão.
A inspectora autoritária manda tirar os sapatos. Pedido que lembra ambiente de alcova.
Outro segurança aponta para a mochila. Abro, tiro o computador, que engancha na minha paciência.
Quase deixo vazar a indignação passageira.
Liberado e enjaulado, sigo a seta para o terminal, que espero não seja nenhum paciente.
Logo vejo Washington, do alto, pela janela que estreita a visão e espreme a mente.
Lembro dos museus.Todos meticulosamente arquitetados.
Curadores impecáveis.
Arte….sómente contemporânea, a outra me aborrece.
Setenta milhões de anos de historia natural, que Darwin sintetiza numa vitrine de vinte passos. Estamos na era do fast-cult.
Alberto Giacometti me persegue com suas esculturas embolotadas, longelineas e encrespadadamente fiéis a realidade.
O pólen empurrado pela ventania faz uma nuvem amarela de "polenuicao", reverenciando a mãe Terra, que veste a mesma grama surrada de todo dia.
Uma galeria de fotos premiadas tem destaque na curadoria.
Negros fazendo entardecer mais cedo, na Angola inglesa, sem legenda: My man!
A cor da pele nos aproxima e logo sou promovido de potencial terrorista a "brother" desbotado.
Dia de despedida. Troquei o zoológico pelo aquário, mas não estava preparado.
Os peixes foram passando e me observando com espanto.
Pude ouvir o mais escamoso dizer que eu parecia um humano interessante, mas tinha ar de cansado e minha luz pulsante acendeu poucas vezes.
O menorzinho retrucou e justificou dizendo que eu estava preso recente nesta jaula , mas breve eu voltaria para minha jaula natal….
Combinaram então, para me ver feliz, que voltariam em piruetas e acrobacias usando rabos e barbatanas.
Fugi. Correndo…voando…mas sei que a velha jaula esta me aguardando…
Ou joga fora ou bebe tudo!
03 abril, 2010
Fluir espaço-tempo
A catarse da velocidade transporta alma, que não tenho.
Meus sonhos viajam na lentidão dos horizontes onde emergem novas vidas.
À margem, pastando livre, o gado suporta a engorda fatal.
Ao volante, ela dirige nossas vidas.
Contamos estórias de amores passados...alguns não resolvidos.
Outro radar tirano nos impõe ritmo mais ameno.
Corpo e carga são obrigados a existir lentamente.
A paisagem penetra a noite pelos caminhos livres.
Sem medo é mais ameno.
Sem culpa parece mais leve.
Ser quem eu imagino ser; incorporado de quem sou.
24 março, 2010
Santa Fé Preto (Hyundai)
- Quem, o carro?
- Também!!
- Então intercepta AGORA!!!!! Se for preciso, chama o Wanderney para dar um reforço, mas NÃO deixa fugir !!!!!
- Positivo.
Wildemar, percebe a chance de promoção. Quem diria dois meses de trabalho e já ia poder trocar até de namorada.
Corre muito ofegante, amaldiçoa o churrasco com cerveja na laje do cunhado Bozó.
- UFA!! to chegando...
O safado está disfarçando...ÊPA enfiou a mão no bolso !!! Tá armado.
Passa a mão no cacetete, como nos filmes de Hollywood:
PAM, PÁ, PÁ, PAM, POFT
Merda!! Sangue respingado suja o uniforme de segurança.
- Tira a mão daí agora !!
- Mas eu só est...
- Não brinca, que leva mais!!!
- Wanderley, chama a central e pede para avisar os "omi" que EU já imobilizei o gatuno.
Fez tudo certo, mas o chefe o demitiu junto com a noticia-escândalo de jornal.
O motivo: racismo.
Mentira!!! Os "omi" receberam uma grana para dizer que o Santa Fé preto era dele, mas eu vi uma moça loira levando embora o carro. E gente elegante assim não se mete com preto.
Dizem que este malandro recebeu mais grana que eu na minha rescisão...
Mas minha Nossa Senhora da Aparecida vai me ajudar a vingar este preto.
[mlfb] exercício curso de escrita com Marcelino Freire
12 março, 2010
Eu me lembro....
Nome para facilitar conversa codificada.
- Fui ao Chalé...
- Tomei um banho no Chalé...
Chalé com arquitetura de "puxadinho na laje"
Das janelas se avista o muro-paisagem.
Quem vai a motel para apreciar a vista??
Na portaria desanimada, a recepcionista pontua discretamente o casal.
Quesitos: compatibilidade, beleza, sexualidade, comprometimento....
Saudades do tempo que importante era só não ter fila.
Não precisava ter vista panorâmica.
Nem cama d'agua, nem espelho no teto e muito menos "jacuzzi".
Bastava um leito limpo com banheiro asseado,
envolvendo corpos nus emaranhados.
Os desejos legitimos, sem qualquer pílula vasodilatadora.
Os gemidos nao dependiam do tamanho do saldo bancário.
Lugar onde amante pensa que ama quem o cônjuge diz apenas suportar...
Beija, lambe, cheira e penetra.
Descansa, conversa e repete.
Provoca, invoca, discute e acaba.
Promete, remete, Rê mete, remexe e repete.
- Se um dia a gente casar promete fazer igual?
- Não! Porque amor não se faz... Amor se dá, sentindo....
[mlfb] exercício curso de escrita com Marcelino Freire (25 linhas)
Tremor na placa peitoral, ruptura hemorrágica
A vida interrompida, traz alívio sob medida.
Matilda chora pranto oficial e os filhos não chegarão a tempo.
O pensamento interrompido morre, sufocado pelo vazio.
-Queria mais um ... (Não se despediu, apenas morreu).
[mlfb] exercício curso de escrita com Marcelino Freire (05 linhas)
09 março, 2010
20 fevereiro, 2010
18 fevereiro, 2010
Lembranças do Carnaval 2010
Um torpedo, dúbio, aventa possivel companhia nas trilhas da Bocaina.
O bucólico rural vai se incorpando rapidamente de cotidiano.
A caminho da cachoeira, um lagarto reformula minha solidão.
Formoso (o município), justifica seu nome....
Acolhe meu corpo extasiado.
e em meio a muita conversa de bar (rural)
descubro o carnaval acontecendo.
Colombina com olhar melancólico e sereno, atordoa minha descrença.
"Ela vem toda de branco, molhada e 10...penteada."
Mergulhamos num banho de cachoeira noturno.
Corpos definidos apenas pelo reflexo prateado no luar.
Já no quarto, a silhueta dela sugere carinhos preliminares.
O suor desliza desejo sobre o corpo e leito.
Após remexer as entranhas alheias,
a topografia do outro vai sendo incorporada.
Depois o sono é profundo plácido e reparador (...até dos pecados)
De volta à metrópole inundada,
me afogo no que restou desta lama desumanizada,
que vai transformando Barreiro em apenas uma lembrança rural.
[mlfb]
12 fevereiro, 2010
Vento, Brisa & Marasmo
Resistência quase nula, me deixo envolver.
Busca em mim o que não sou.
Pensando não pensar em ser.
Um sentimento vivo perambula noite adentro.
Brisa que envolve e dá sentido ao mundo de escarnio.
Desejo configurado em armadilha que me atrai.
Novamente sem motivo....
por um segundo, noção de vida sem amarras.
Ela perturba minha plácida existência,
um olhar , uma falsa impressão de amar.
Um desejo perdido em novos momentos diluídos.
Que denunciam o presente virando passado.
Na piscina, a bola intermedia...
que pedaço de mim mando, para quem?
Que entranhas me abandonam sem permissão
Rasgando o corpo em quadrantes pegajosos.
Vontade de crescer arvore.
Com movimento conduzido pelo vento,
esperando alguem passar pelo tempo.
Uma canga tremula com a brisa
Mostra an...seio de corpo esguio
Boiando na piscina em repouso sem perspectiva
Carnaval
Ventilador, calor, insonia.
Suor, desinteresse, umidade...
Toque do celular interrompe o tédio.
A mensagem de texto sugere decisão:
afastamento compulsório ?!?! não ?!?!
Não, apenas um encontro de padaria,
onde a conversa conturbada e furtiva,
tenta dissimular aquilo que os olhos não param de gritar.
Na despedida um beijo, um abraço, outro beijo, um amasso,
Outro beijo e um laço.
Uma promessa de viagem...(na maionese)... para a montanha.
O coração já batuca no carnaval (carne aval)
Abrindo alas da confusão
Bateria carregada, retumba.
Colombina desfilando sedução
a batucada estanca hemorragia
de mais um Pierrot apaixonado.
[mlfb]
05 fevereiro, 2010
230 fotógrafos no aniversário
Ação coletiva proposta pela Cia de Foto a partir de convite de Monica Maia, editora de fotografia da Revista da Folha, para o aniversario de São Paulo.
01 fevereiro, 2010
Encontro clandestino
e torce para eu ser opção equivocada.
Quem se conhece não faz escolhas,
apenas cria contingências.
Nela o coração espera uma escolha transmutada de destino.
Sem que a mente exercite liberdade sem tino .
Falsa dicotomia reduz infinitas possibilidades.
E arrasta placidamente o vínculo amoroso oficial.
Conversa difusa.
Terapia coloquial,
desejo animal,
despedida convencional.
[mlfb]
31 janeiro, 2010
Balada no PS
Minha mãe aguarda a boa vontade da atendente,
Que espera ser alvo do desejo do segurança,
Que assegura a integridade da moça de mini-saia,
Que mesmo doente seduz muitos pacientes.
O Seguro Saúde parece inseguro logo de entrada.
Senha 176.
-Senhora não atendemos este convenio.
O segurança desaparece e a concentração reaparece.
-Desculpe...atendemos sim...por favor assine.
-Aguarde a triagem sentada na sala de espera 2.
Senha 176
-Vamos pedir autorização para os exames.
Senha 176
-Autorização negada.
-Por favor morra lentamente...
-mas pode aguardar na sala 3.
Cena congelada.
Diagnóstico conveniente.
Demência senil,
Medico cansado,
Doente sedado,
PS lotado.
Receita prescrita.
Momento patético,
Mensalidade paga,
Assalto legalizado,
Reclame com o bispo.
Que não resolve,
mas conforta e catequiza.
Seja o que Deus quiser,
desde que o convenio economize.
[mlfb]
Mergulho
16 janeiro, 2010
Terremoto
Cansada de CPIs da Corre Opção, Pizzatone, Cueca, Arruda...
BBBs e Fazendas....
Numero de mortos atualizado com precisão decimal !!!
Reportagens idiotizantes, na tela com exclusividade:
-como se sente apos 72 horas soterrado?
a vítima da mídia, e da catástrofe, responde:
(zap)
-muito bem...hum...só queria tomar um banho de sais e queria tambem mandar um beijo para meus familiares e dizer que agradeço o apoio de todo esse publico, que me deu a maior força nessa minha luta pra ser uma pessoa melhor.
Saio vitorioso e com mais luz espiritual. Amo voce Bial...
(zap)
Políticos fingindo pesar & pensar
Diplomatas racistas seguidores do Ricupero, confessam em "off", ao vivo...
dezenas, centenas, milhares de vítimas...tanto faz...
todos fingindo compaixão das imagens,
mas fazendo descaso das vítimas.
Imersos nos sofás consumindo desgraça alheia,
a pleno conforto e com solidariedade asséptica.
A catarse do telespectador alheio a realidade,
transformada a cada click de botão.
Sem coragem de estender a mão e compartilhar,
ainda que único, um pedaço de pão velho e duro.
É mais fácil doar cinco reais pelo 0800-XXXXXXX5
Remove a culpa remotamente.
Haiti, hai de ti..., quase uma Ilha Grande.
E eu aqui escrevendo, sentado e também sem coragem...
[mlfb]