21 dezembro, 2010

Re-ferida

Dói passando, dói sarando.
Nova contusão, outra decepção.
De novo perdão.
Sem revisão.
Dói novamente, mas passa lentamente.
Alerta nova mente,
que não mente.
Desmente,
demente,
da mente,
valente,
ardente.
Insistente amante.
Beijo errante,
morno e combalido.
Parece desodorante vencido.

20 dezembro, 2010

Delivery Love

Meu coração faminto e desatento,
não digere "Fast-Love",
ainda que embalado em isopor.
Não esfria, mas causa dor.

15 dezembro, 2010

Evaluation (ON-OFF)

Assegurada a presença constante,
só ausência valoriza o amante.

07 dezembro, 2010

Exame de coração

Coloração: violeta, na tonalidade da ametista do seu novo pendat.
Consistência: em processo de amolecimento.
Frequência: alterada,  batimento mais confiável e transparente.
Irrigação: Constante, persistente, intensivamente monitorada
Arritmia: somente quando exposto a ritmo apaixonado.
Durante teste envolvimétrico, sob esforço, apresentou um padrão de performance extraordinário, especialmente em rendição com plenitude.

Diagnóstico:
Órgão em processo agudo de suavização homeopática decorrente de aparente estado de inebriamento ativo. Indícios de contaminação afectuosa que pode ter se alastrado durante os últimos 10 meses.

Profilaxia:  viver um amor verdadeiro (antes de dormir)

01 dezembro, 2010

Delírio @ 05:00 a.m.

Desperto encharcado de você.
Lambuzado na lembrança.
Um espasmo derradeiro aspira alma...
e não descansa.

26 novembro, 2010

Contrapontos

Penso em casamento.
Ela em distanciamento.
Falo do meu querer,
Ela diz sobre o que não quer.
Confesso incerteza com afeto,
Nela o vinculo é desafeto.
Envio flores,
Ela fala de amores.
Somos cumplices só no leito,
que por descaminhos foi desfeito.
Quero um encontro a dois,
deixando a vida para depois.

25 novembro, 2010

Perdas

De tudo que vivemos,
Restou apenas um sandwich frio de mortadela.
Espreitando minha fome de soslaio.
Para alimentar barriga e alma...
Digestao dificil.
Dói, mas passa.
Regurgita e mastiga, que passa.
Uma risada transpassa.
Um beijo repassa.
Relaça.
Enlaça.
Amordaça.

19 novembro, 2010

Telefonema

Depois do jantar regado a vinho escolhido pelas amigas e um antigo namorado, voltamos para comemorar privadamente o aniversário dela.
A transa com variedades amenas e tórridas, recebeu nota máxima, atribuida ao contínuo aprimoramento da entrega amorosa verdadeira!!...

Na noite seguinte foi dançar com as amigas, amigos, convidados e pretendentes.
Um Bemdito entre as mulheres se esforça para finalizar a conquista. Muita conversa, selada com um ósculo promissor e a ingrata missão de agendar a troca o mais rápido possível...dentro do prazo estipulado pelo Código do Consumidor.

No final da tarde do dia seguinte, um telefonema quebra o silencio ensurdecedor:
Tudo bem? Para mim tudo ótimo. Tive que trocar o meu presente de aniversário!
Eh! Troquei aquele amor antigo por outro mais moderno, mais jovem e espiritualizado.
Olha, podemos conversar pessoalmente caso você precise entender o motivo.
Por mim podemos deixar para próxima encarnação aquilo que já desencarnou.
Afinal nunca te prometi mais que aguardar ao meu lado, até minha próxima escolha.
Dói, mas passa. E se não der para suportar, repassa.
Pois é, perdi meu tesão por você na pista da balada. Caso você ache, pode deixar na portaria do prédio.
Mas não se preocupe porque já arrumei outro ali mesmo.
Aquele amor estava muito acelerado.
Substituí por um mais calmo, maleável, menos verdadeiro, convívio simples...plug and play.
Olha, toma analgésico que melhora a dor de cotovelo.
Hoje não dá, estou muito cansada, me deixa dormir.
Se quiser (me) comer tem um coração congelado no freezer e um Alfajor sobre a mesa.
Dói, mas passa. E se não melhorar, repassa.
Porque você não convida sua "ex" para me substituir?
É produto conhecido, fácil e barato.
Para evitar confusão de nomes, chame de "meu amor" quando gritar de prazer.
Ah! Você merece alguém muito melhor que eu.
Parece cliché, mas juro que inventei agora!!
Dói, mas passa. E se não aguentar, repassa.
Alô! Alô! Você está me ouvindo?
Essa droga de celular...nunca funciona quando a gente precisa.
Alô! Alô!

Continuo mudo.
Mudo de posição.
A fila andou.
Próximo, por favor!!

05 novembro, 2010

Passa tempo

Durmo abraçando tua ausência,
Acordo imerso em solidão.
Me levanto, fundindo sonho e realidade
Ao telefone uma mensagem consagra distanciamento.
Agitação do trabalho camufla 10...interesses.
Esperança está em coma induzida.
Logo, ressurreição em vida.

30 outubro, 2010

Manhã nublada

Coração esfacelado,
Me obriga mentir,
para entender o verdadeiro.
Velório sem corpo.
Um desabamento emocional,
cria emergência na convivência.
Vida compartilhada engolida por cratera faminta.
A solidão irrompe veias e irriga pensamento.
Sinapse diluída em vento.
Solitária sensação de vida.
Onde metade parece o todo.
Saudade escurecendo amanhecer.
Frio, cinzento e rabugento.
Peço socorro no balcão da padaria.
Vem um café amargo.
Capto um olhar alegre, um sorriso indeciso.
Nossa conversa coloquial cria alento.
Então, migalhas se vão como vento.

[mlfb]

15 outubro, 2010

Sufocado

Ausente no vazio,
Onde meu silêncio ecoa.
Fluindo pela lembrança de uma vida alheia.
Precisando ressuscitá-la amanhã.
Urge viver modesta existência.
Que de mim se ausenta,
e aspira reviver no futuro, um passado singelo,
que já não se faz presente.

12 outubro, 2010

100chance

Vácuo mental.
Buraco espiritual?
Pensamento solitário.
Presença roubada
Ausência configurada.
Concessões ignoradas.
Justificativas contundentes.
Ainda assim a mente vacila,
num desleixo sem tamanho,
com a própria existência.
Corpo só mexe,
por inércia da vida.
Realidade acinzentada,
com sonoridade atenuada.
Lembrança colorida,
turva o pálido presente.
Nenhuma resposta cicatriza rejeição,
Construida na fertilidade.
A vida nos observa, abandonando o inviável.
Vencendo a síndrome de abstinência do outro.
Substituindo o 'juntos' por 'eu, comigo'.
Exaurindo turbulências, apaziguado pela fé.
Devoção para ver o que ainda não aconteceu.
Sem temer o equívoco da certeza construida,
sob pilares imaginários.

[mlfb]

Saco na viagem

Depois de exaustiva peregrinação (não religiosa), consigo uma passagem para voltar antes do final do feriado emendado. A solução conveniente ao bolso, logo se mostraria desconfortável para o corpo.

Na poltrona contígua um senhor japones, seguramente com mais de setenta anos, tinha conversa educada, modos tranquilos e muita estória para contar.

A cidade de Londrina fica para trás em minutos.

Na rodovia o ronco do motor quase despercebido, prometia uma viagem monótona.

Um estímulo sonoro se destacava no silencio. O farfalhar de um saco plástico manipulado histéricamente por uma senhora afoita, amedrontada e irriquieta no banco de trás.

Logo outro passageiro solidário à senhora inicia uma ressonante roncar.

Pista ondulada provoca ruído na carroceria.

Em instantes esta orquestra contra o sono alheio, começa a emancipar minha irritação contida.

Advirto a senhora, que me olhando ostensivamente, nem responde, como é costume dessa gente mal educada.

Continuo inconformado e pensativo: o que será que tem dentro da sacola? Porque mexe e remexe?

Ensaio outra repreensão verbal...sem sucesso.

Tento um truque de concentração, mas minha mente inquieta não se aquieta.

Farfalha, farfalha, ronca, farfalha e range.

Uma orquestra ruidosõnica contra o meu sono reparador.

Farfalha, farfalha, remexe e mexe...ronca e farfalha.

- Senhora! O barulho está me incomodando.

A reposta foi uma mímica lacônica, que no meu entender alegava mal comportamento do saco...

Fico calado e continuo apoquentado.

Silencio, silencio, FARFALHA !!!

Incrédulo tento outra vez.

- Senhora, esta não é a sua casa, está incomodando. QUERO DORMIR um sono honesto !!

- Senhor, pode deixar ….

Silencio, farfalha, silêncio, farfalha.

Silêncio, farfalha, farfalha, farfalha.

Senti falta do ronco !!!

Vencido, opto por escrever este texto,

para me inserir no contexto.

“Era uma vez uma mexeção em saco plástico,

que virou encheção de saco piroclástico...”


[mlfb]

03 outubro, 2010

Ponto final

À noite fomos ao teatro ver Albert Camus.
Depois, uma conversa amarga no balcão do bar.
Na cama, como sempre, enrosco selvagem.
Pela manhã um beijo frio,
Contrasta o calor das cobertas.
Um olhar de soslaio antes de fechar a porta.
Um romaneio com 10 razões, onde uma só basta:
- Não te quero mais!
Parece pouco, mas o incomodo é grande.
Ponto final.
Estamos livres do compromisso.
Acorrentados ao descompromisso.

29 setembro, 2010

Desacoplamento

A indolente intimidade caridosa denuncia afastamento.
Na escassez de cumplicidade,
Há reciprocidade no querer o não querer do outro.
Num desnecessário contraponto.
Degradando o desafeto,
em dissimulada desaprovação latente.

Para justificar o escapismo:
um silencio de monge.
Então aqui, fica muito longe.

Death

We only die for those still alive.
There is no frame to fell death after die.

17 setembro, 2010

EMaranha

Que bom é deslizar pela epiderme alheia,
Buscar aranha e sucumbir na teia.


15 setembro, 2010

Declaração de 10amor

Não te acaricio mais, por me interessar menos.
Tanto faz, para quem nunca fez.
Seu insuportável ceticismo,
quando dominado, causa prazer interminável.
Mas vasculha entranhas e semeia dor.
Falta algo !
Só pode ser: amor.

31 agosto, 2010

Poeira cósmica

Viver no imaginário,
Abandonar a realidade,
Legitimar devaneio na mentira:
Intrínseca habilidade humana.

A matemática sempre improvisa um modelo,
que a realidade se esforça em cumprir à risca.
Natureza regularmentada,
Colorida artificialmente.
Impotentes olhos que enxergam,
apenas aquilo que a mente, que mente, quer ver.
Envelhecemos confusos.
Priorizando o pensar.
Ignorando o sentir.
Encolhendo a emoção.
Refazendo a percepção.

Nestes ciclos de vida e morte,
repete-se o ritual:
desagregar átomos ordenados por um cromossoma qualquer,
e recombiná-los para formar novos aglomerados, novos cérebros.
No defunto, o pensamento deixa de existir.
Morre a sinapse não compartilhada.
O imaginário desaparece.
Porém a matéria continua transmutada, reciclada.
O bom censo de Lavoisier...Contra o censo espiritual...

O tempo, uma imaginação com memória,
nos reduz à intermediadores de processos naturais.

Seguimos como miríades desorientados.
Transfigurados pelo próprio cérebro.

A procura de um significado teórico para vida,
Ignorando a falta de sentido prático.
Vamos nos esmerando em:
Ser feliz.
Esquecendo de viver.
Disputando o primeiro lugar,
indo e vindo sem rumo.

Continuo com fé.
Seguindo o processo estocástico universal,
desmedidamente inconformado
pela falta de justiça inventada,
pelo excesso de morte imaginada,
pela onipresença da miséria instaurada,
pelo humano desumano.

Não importa!!
Somos todos mentiras,
do mesmo saco de poeira cósmica.

09 agosto, 2010

Vida binária

Conectados como uma manada digital,
disparamos rumo ao desfiladeiro eletronico.
Computadores-servidores aglomerados em fazendas digitais.
Roteadores reencaminhando caoticamente bits de fé,
emoção , ou um pedido de medicamento raro.
Correntes do amor, de dinheiro e até de encontros casuais.
Relacionamento fast-food na Internet,
daquele tipo que caiu na rede é peixe de banda larga.
Amor digital sem conta-gotas, só download torrencial.
Democratiza estupidez e desinformação.
Selva digital repleta de animais convencionais.
Vídeo, imagem, e até pulseira eletronica:
Até almas perdidas, são localizadas no Google.
Sem encontrar a si mesmo,
os exibidos sem camisa e de óculos escuros,
compõe o mosaico de ladrilhos desumanos.
Na memória, 5.000 músicas para ouvir,
sem parar, até a outra geração.
Na agenda 500 endereços desconhecidos.
Resultado: ZERO na busca de amigos na web.
A foto retocada e antiga, vende mentira global e atualizada.
Sem saber ser, segue aprendendo a legitimar a existencia.
Teclando, querendo ser mais que um conglomerado de bits.
Classificado, taggeado, emocionado e com um perfil falso.
Porém verdadeiramente digital.
Um avatar perfeito.
Um conforto no peito.
Uma Second Life superando instinto de vida.
Perpetuando a personalidade digital.
Sinapses transformadas em combinações binárias
Vontades e desejos, virtualmente vivenciados.
Tela plana exibindo em 3D vida primitiva e humana,
transformada em "memes" digitais evoluidos.
Viciados em bits e bites.
Alô!1 Hell0....0101001001010001001000............

26 julho, 2010

Calzone 55


....mosaico dos 55@nos...

14 julho, 2010

Astral ausente

Frio, chuva, sopa quente,
soca a mente,
que ocasional mente,
Gente ausente.
Animal presente,
Instinto repelente.
Anal, anual.
Vital, promocional,
de bom astral,
mentira matinal.

10 julho, 2010

Verdade inventada

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passivel de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada"
[Clarice Lispector]

29 junho, 2010

quasenfarte

Inesperada surpresa.
A bala espoca.
Abala a presa.
Num imprevisto, já previsto.
Retumbante pulsação.
Comprime o sangue cálido por veias obstruídas.
Diástole empurra sístole além do vital.
Sobrevida milagrosa.
Um pouco paz.
Escombros numa relação fugaz.

25 junho, 2010

Bebê roubado ?

Escuro, chacoalha, chacoalha,
Sempre a monotonia do breu solitário.
Dentro de alguem,
esperando deixar de ser ninguém.
Movimento lento.
Aperta, contrai, contrai.
A luz atrai.
Saí debutando vida e choro.
Passando de mãos em mãos.
As ultimas eram sorrateiras.
Alguem me encara chamando:
- Meu bebê !!!
Sinto falta da minha piscina particular.
Outro alguem grita em desespero:
- Jesus !!! Meu filho !!!
Desde cedo, instaurada confusão mental.
Afinal sou bebê, jesus ou filho ??
Tanto faz.
Tenho fome.
Quero uma teta cheia para me suprir.
É para essa que vou sorrir.

24 junho, 2010

Dueto Digital

Compôs uma música digital no sexofone.
Tocar em sintonia, para ouvir a melodia.

23 junho, 2010

Incursão na faixa de 'Kaza'

Lixo recolhido.
Comida congelada no freezer.
Calça suja no cesto de roupa.
Água fresca na moringa.
Pão com graõs no café matinal.
Escova nova na pia do banheiro.

Invasão de territórios desocupados.
Sem resistencia. Danos mitigados.
Espaço e vida compulsóriamente partilhados.
Passo o passo.
Dancei livre, sem descompasso.

20 junho, 2010

Amanhecendo

Desperto com tua ausência.
Teu cheiro no leito ainda quente.
Permanece a lembrança do teu corpo macerado.
Sol emergindo, e parte de mim já se foi.
Esvaindo pelo turbilhão latente.

[mlfb]

19 junho, 2010

Ódio

Mantra sagrado,
Almoço estragado,
Templo profanado,
Café derrubado,
Ódio coado,
Lama na lama.

Traição

Eu confesso minha traição.
Ao contrario do que circula de boca em boca, não foi ao penetra-la.
Começou dividindo a caipirinha de vodka, no jantar da turma.
Compartilhando o mesmo olhar, na despedida.
Ensaiando velejar, na Ilhabela.
Tomando sorrateiros cafézinhos, sem açucar, mas com afeto.
Ela entra por uma nesga de vida.
Minha esposa desaprovou a substituição,
apenas, porque perdia a melhor amiga.
Traí meu eu, para poder pensar ser seu.

13 junho, 2010

en@moLHados

Com minhas entranhas esfoladas e viscosas.
Durmo em você e amanheço retorcido.

Pasta "al dente",

Passeio no parque.

Banho a quatro mãos.

Tamanho enrosco, de quatro pés.

Ventrículos, bocas e pele.

Corpos mesclados sem limites.

Adormecidos e combalidos.

Sem perceber, envolvidos.


[mlfb]

08 junho, 2010

Caminhos

À noite percorro teus becos fustigados pelo desejo.
Pela manhã rasgamos a cidade em gélidos carros sonolentos.
Aquecidos na memória do nosso ardor.

[mlfb]

05 junho, 2010

Insônia

Sem sono, frio.
Sem você, vazio.
Textura de arrepio.
Partida de urgência.
Num dia de emergência.

[mlfb]

31 maio, 2010

Momentos privados

Sigo a trilha lentamente.
Nela percebo movimento da brisa ao redor de cada galho.
Na cachoeira, um escorregão traz a tona medos privados.
Boca seca, afogada pelo desejo.

Fora da mata, o imaginário sempre em descompasso com o real.
Aparecem anseios fantasiados de vontades,
e coreografias transfigurando o ofício de viver.

Amanhecemos, consumados.
Meu corpo jaz arrepiado pelos teus resíduos.
A pulsação cadenciada, fica tímida e se esvai.
Sofregamente o suor gelado esfria nossa alma.
Fica apenas a vontade de ter desejo.

[mlfb]

09 maio, 2010

10 compromissos

Foi dançar com amigos.

Foi jantar com amigos.

Foi viver com amigos.

Com o amante fez todo o resto.


Com palavras se desculpou,

mas no comportamento certificou a dicotomia.

Parece que a disposição já foi faz tempo.

O desapego e´ sua marca registrada.


Agora, um falseio na defesa do outro.

permite virar a mesa,

para esquecer a culpa,

e partir sem memória,

para um novo 10compromisso.


[mlfb]

07 maio, 2010

Movimento dos barcos

Estou cansado e você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo

Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo

Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento

(Jards Macalé e Capinan)


20 abril, 2010

Reflexão nas alturas (pós Earth Day)

- Senhor, ou joga fora ou bebe tudo!

Líquidos a bordo nem pensar…razões de segurança.

Preferi sorver toda aquela água quente num gole…e passei pelo primeiro pelotão.

A inspectora autoritária manda tirar os sapatos. Pedido que lembra ambiente de alcova.

Outro segurança aponta para a mochila. Abro, tiro o computador, que engancha na minha paciência.

Quase deixo vazar a indignação passageira.

Liberado e enjaulado, sigo a seta para o terminal, que espero não seja nenhum paciente.

Logo vejo Washington, do alto, pela janela que estreita a visão e espreme a mente.

Lembro dos museus.Todos meticulosamente arquitetados.

Curadores impecáveis.

Arte….sómente contemporânea, a outra me aborrece.

Setenta milhões de anos de historia natural, que Darwin sintetiza numa vitrine de vinte passos. Estamos na era do fast-cult.

Alberto Giacometti me persegue com suas esculturas embolotadas, longelineas e encrespadadamente fiéis a realidade.

O pólen empurrado pela ventania faz uma nuvem amarela de "polenuicao", reverenciando a mãe Terra, que veste a mesma grama surrada de todo dia.

Uma galeria de fotos premiadas tem destaque na curadoria.

Negros fazendo entardecer mais cedo, na Angola inglesa, sem legenda: My man!

A cor da pele nos aproxima e logo sou promovido de potencial terrorista a "brother" desbotado.

Dia de despedida. Troquei o zoológico pelo aquário, mas não estava preparado.

Os peixes foram passando e me observando com espanto.

Pude ouvir o mais escamoso dizer que eu parecia um humano interessante, mas tinha ar de cansado e minha luz pulsante acendeu poucas vezes.

O menorzinho retrucou e justificou dizendo que eu estava preso recente nesta jaula , mas breve eu voltaria para minha jaula natal….

Combinaram então, para me ver feliz, que voltariam em piruetas e acrobacias usando rabos e barbatanas.

Fugi. Correndo…voando…mas sei que a velha jaula esta me aguardando…

Ou joga fora ou bebe tudo!

03 abril, 2010

Fluir espaço-tempo

Na estrada deslizamos sob vigia eletrônica,
A catarse da velocidade transporta alma, que não tenho.
Meus sonhos viajam na lentidão dos horizontes onde emergem novas vidas.
À margem, pastando livre, o gado suporta a engorda fatal.
Ao volante, ela dirige nossas vidas.
Contamos estórias de amores passados...alguns não resolvidos.
Outro radar tirano nos impõe ritmo mais ameno.
Corpo e carga são obrigados a existir lentamente.
A paisagem penetra a noite pelos caminhos livres.
Agito um futuro sem pressa de acontecer.
Sem medo é mais ameno.
Sem culpa parece mais leve.
Ser quem eu imagino ser; incorporado de quem sou.
[mlfb]

24 março, 2010

Santa Fé Preto (Hyundai)

- Preto?
- Quem, o carro?
- Também!!
- Então intercepta AGORA!!!!! Se for preciso, chama o Wanderney para dar um reforço, mas NÃO deixa fugir !!!!!
- Positivo.
Wildemar, percebe a chance de promoção. Quem diria dois meses de trabalho e já ia poder trocar até de namorada.
Corre muito ofegante, amaldiçoa o churrasco com cerveja na laje do cunhado Bozó.

- UFA!! to chegando...
O safado está disfarçando...ÊPA enfiou a mão no bolso !!! Tá armado.
Passa a mão no cacetete, como nos filmes de Hollywood:
PAM, PÁ, PÁ, PAM, POFT
Merda!!  Sangue respingado suja o uniforme de segurança.
- Tira a mão daí agora !!
- Mas eu só est...
- Não brinca, que leva mais!!!
- Wanderley, chama a central e pede para avisar os "omi" que EU já imobilizei o gatuno.

Fez tudo certo, mas o chefe o demitiu junto com a noticia-escândalo de jornal.
O motivo: racismo.

Mentira!!!  Os "omi" receberam uma grana para dizer que o Santa Fé preto era dele, mas eu vi uma moça loira levando embora o carro. E gente elegante assim não se mete com preto.

Dizem que este malandro recebeu mais grana que eu na minha rescisão...

Mas minha Nossa Senhora da Aparecida vai me ajudar a vingar este preto.

[mlfb] exercício curso de escrita com Marcelino Freire

12 março, 2010

Eu me lembro....

Eu me lembro de um Motel chamado Chalé.
Nome para facilitar conversa codificada.
- Fui ao Chalé...
- Tomei um banho no Chalé...
Chalé com arquitetura de "puxadinho na laje"
Das janelas se avista o muro-paisagem.
Quem vai a motel para apreciar a vista??
Na portaria desanimada, a recepcionista pontua discretamente o casal.
Quesitos: compatibilidade, beleza, sexualidade, comprometimento....
Saudades do tempo que importante era só não ter fila.
Não precisava ter vista panorâmica.
Nem cama d'agua, nem espelho no teto e muito menos "jacuzzi".
Bastava um leito limpo com banheiro asseado,
envolvendo corpos nus emaranhados.
Os desejos legitimos, sem qualquer pílula vasodilatadora.
Os gemidos nao dependiam do tamanho do saldo bancário.
Lugar onde amante pensa que ama quem o cônjuge diz apenas suportar...
Beija, lambe, cheira e penetra.
Descansa, conversa e repete.
Provoca, invoca, discute e acaba.
Promete, remete, Rê mete, remexe e repete.
- Se um dia a gente casar promete fazer igual?
- Não! Porque amor não se faz... Amor se dá, sentindo....

[mlfb] exercício curso de escrita com Marcelino Freire (25 linhas)

Tremor na placa peitoral, ruptura hemorrágica

Morte a espreita de qualquer existência manca.
A vida interrompida, traz alívio sob medida.
Matilda chora pranto oficial e os filhos não chegarão a tempo.
O pensamento interrompido morre, sufocado pelo vazio.
-Queria mais um ... (Não se despediu, apenas morreu).

[mlfb] exercício curso de escrita com Marcelino Freire (05 linhas)

18 fevereiro, 2010

Lembranças do Carnaval 2010

A estrada do Rio Paraíba vai transformando S. Paulo em apenas uma lembrança urbana.
Um torpedo, dúbio, aventa possivel companhia nas trilhas da Bocaina.
O bucólico rural vai se incorpando rapidamente de cotidiano.
A caminho da cachoeira, um lagarto reformula minha solidão.
Formoso (o município), justifica seu nome....
Acolhe meu corpo extasiado.
e em meio a muita conversa de bar (rural)
descubro o carnaval acontecendo.
Colombina com olhar melancólico e sereno, atordoa minha descrença.
"Ela vem toda de branco, molhada e 10...penteada."
Mergulhamos num banho de cachoeira noturno.
Corpos definidos apenas pelo reflexo prateado no luar.
Já no quarto, a silhueta dela sugere carinhos preliminares.
O suor desliza desejo sobre o corpo e leito.
Após remexer as entranhas alheias,
a topografia do outro vai sendo incorporada.


Depois o sono é profundo plácido e reparador (...até dos pecados)

De volta à metrópole inundada,
me afogo no que restou desta lama desumanizada,
que vai transformando Barreiro em apenas uma lembrança rural.

[mlfb]

12 fevereiro, 2010

Vento, Brisa & Marasmo

Sem permissão, afaga meu corpo.
Resistência quase nula, me deixo envolver.
Busca em mim o que não sou.
Pensando não pensar em ser.
Um sentimento vivo perambula noite adentro.
Brisa que envolve e dá sentido ao mundo de escarnio.
Desejo configurado em armadilha que me atrai.
Novamente sem motivo....
por um segundo, noção de vida sem amarras.
Ela perturba minha plácida existência,
um olhar , uma falsa impressão de amar.
Um desejo perdido em novos momentos diluídos.
Que denunciam o presente virando passado.

Na piscina, a bola intermedia...
que pedaço de mim mando, para quem?
Que entranhas me abandonam sem permissão
Rasgando o corpo em quadrantes pegajosos.

Vontade de crescer arvore.
Com movimento conduzido pelo vento,
esperando alguem passar pelo tempo.

Uma canga tremula com a brisa
Mostra an...seio de corpo esguio
Boiando na piscina em repouso sem perspectiva

Carnaval

Parece mais uma noite quente de verão.
Ventilador, calor, insonia.
Suor, desinteresse, umidade...
Toque do celular interrompe o tédio.
A mensagem de texto sugere decisão:
afastamento compulsório ?!?!  não ?!?!
Não, apenas um encontro de padaria,
onde a conversa conturbada e furtiva,
tenta dissimular aquilo que os olhos não param de gritar.
Na despedida um beijo, um abraço, outro beijo, um amasso,
Outro beijo e um laço.
Uma promessa de viagem...(na maionese)... para a montanha.
O coração já batuca no carnaval (carne aval)
Abrindo alas da confusão
Bateria carregada, retumba.
Colombina desfilando sedução
a batucada estanca hemorragia
de mais um Pierrot apaixonado.

[mlfb]

05 fevereiro, 2010

230 fotógrafos no aniversário

São Paulo de muitos on Vimeo
Ação coletiva proposta pela Cia de Foto a partir de convite de Monica Maia, editora de fotografia da Revista da Folha, para o aniversario de São Paulo.

01 fevereiro, 2010

Encontro clandestino

Ela confusa, mistura mente e coração.
e torce para eu ser opção equivocada.

Quem se conhece não faz escolhas,
apenas cria contingências.

Nela o coração espera uma escolha transmutada de destino.
Sem que a mente exercite liberdade sem tino .
Falsa dicotomia reduz infinitas possibilidades.
E arrasta placidamente o vínculo amoroso oficial.

Conversa difusa.
Terapia coloquial,
desejo animal,
despedida convencional.

[mlfb]

31 janeiro, 2010

Balada no PS

Sala de espera do Pronto Socorro.
Minha mãe aguarda a boa vontade da atendente,
Que espera ser alvo do desejo do segurança,
Que assegura a integridade da moça de mini-saia,
Que mesmo doente seduz muitos pacientes.
O Seguro Saúde parece inseguro logo de entrada.
Senha 176.
-Senhora não atendemos este convenio.
O segurança desaparece e a concentração reaparece.
-Desculpe...atendemos sim...por favor assine.
-Aguarde a triagem sentada na sala de espera 2.
Senha 176
-Vamos pedir autorização para os exames.
Senha 176
-Autorização negada.
-Por favor morra lentamente...
-mas pode aguardar na sala 3.
Cena congelada.
Diagnóstico conveniente.
Demência senil,
Medico cansado,
Doente sedado,
PS lotado.
Receita prescrita.
Momento patético,
Mensalidade paga,
Assalto legalizado,
Reclame com o bispo.
Que não resolve,
mas conforta e catequiza.
Seja o que Deus quiser,
desde que o convenio economize.

[mlfb]

Mergulho

Quem se importa?
Despertar um sorriso alegre no outro...
Entre as sombras no desfiladeiro?
Passeando pelo picadeiro?
Angustia estampada na chapada.
Sem horizontes.
Frio cortando a alma.
Despedaça a esperança
Recria vitalidade, que jorra pelas têmporas da razão.
Vento norte cheira angustia.
Perturba o equilíbrio frágil.
Despenca e termina num baque desconjuntado
Ergo o corpo esfacelado, mas revigorado no esplendor.
Fluindo, impiedoso, me faz viver.
Humaniza minhas entranhas.
Excomungado, rebatizo minha fé.
 

16 janeiro, 2010

Terremoto

Ocupa a mídia esvaziada,
Cansada de CPIs da Corre Opção, Pizzatone, Cueca, Arruda...
BBBs e Fazendas....
Numero de mortos atualizado com precisão decimal !!!

Reportagens idiotizantes, na tela com exclusividade:
-como se sente apos 72 horas soterrado?
a vítima da mídia, e da catástrofe, responde:
(zap)
-muito bem...hum...só queria tomar um banho de sais e queria tambem mandar um beijo para meus familiares e dizer que agradeço o apoio de todo esse publico, que me deu a maior força nessa minha luta pra ser uma pessoa melhor.
Saio vitorioso e com mais luz espiritual. Amo voce Bial...

(zap)

Políticos fingindo pesar & pensar
Diplomatas racistas seguidores do Ricupero, confessam em "off", ao vivo...
dezenas, centenas, milhares de vítimas...tanto faz...
todos fingindo compaixão das imagens,
mas fazendo descaso das vítimas.
Imersos nos sofás consumindo desgraça alheia,
a pleno conforto e com solidariedade asséptica.
A catarse do telespectador alheio a realidade,
transformada a cada click de botão.
Sem coragem de estender a mão e compartilhar,
ainda que único, um pedaço de pão velho e duro.
É mais fácil doar cinco reais pelo 0800-XXXXXXX5
Remove a culpa remotamente.
Haiti, hai de ti..., quase uma Ilha Grande.
E eu aqui escrevendo, sentado e também sem coragem...

[mlfb]

09 janeiro, 2010

O problema

é que as pessoas...são seres humanos.