31 agosto, 2010

Poeira cósmica

Viver no imaginário,
Abandonar a realidade,
Legitimar devaneio na mentira:
Intrínseca habilidade humana.

A matemática sempre improvisa um modelo,
que a realidade se esforça em cumprir à risca.
Natureza regularmentada,
Colorida artificialmente.
Impotentes olhos que enxergam,
apenas aquilo que a mente, que mente, quer ver.
Envelhecemos confusos.
Priorizando o pensar.
Ignorando o sentir.
Encolhendo a emoção.
Refazendo a percepção.

Nestes ciclos de vida e morte,
repete-se o ritual:
desagregar átomos ordenados por um cromossoma qualquer,
e recombiná-los para formar novos aglomerados, novos cérebros.
No defunto, o pensamento deixa de existir.
Morre a sinapse não compartilhada.
O imaginário desaparece.
Porém a matéria continua transmutada, reciclada.
O bom censo de Lavoisier...Contra o censo espiritual...

O tempo, uma imaginação com memória,
nos reduz à intermediadores de processos naturais.

Seguimos como miríades desorientados.
Transfigurados pelo próprio cérebro.

A procura de um significado teórico para vida,
Ignorando a falta de sentido prático.
Vamos nos esmerando em:
Ser feliz.
Esquecendo de viver.
Disputando o primeiro lugar,
indo e vindo sem rumo.

Continuo com fé.
Seguindo o processo estocástico universal,
desmedidamente inconformado
pela falta de justiça inventada,
pelo excesso de morte imaginada,
pela onipresença da miséria instaurada,
pelo humano desumano.

Não importa!!
Somos todos mentiras,
do mesmo saco de poeira cósmica.

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