Depois de exaustiva peregrinação (não religiosa), consigo uma passagem para voltar antes do final do feriado emendado. A solução conveniente ao bolso, logo se mostraria desconfortável para o corpo.
Na poltrona contígua um senhor japones, seguramente com mais de setenta anos, tinha conversa educada, modos tranquilos e muita estória para contar.
A cidade de Londrina fica para trás em minutos.
Na rodovia o ronco do motor quase despercebido, prometia uma viagem monótona.
Um estímulo sonoro se destacava no silencio. O farfalhar de um saco plástico manipulado histéricamente por uma senhora afoita, amedrontada e irriquieta no banco de trás.
Logo outro passageiro solidário à senhora inicia uma ressonante roncar.
Pista ondulada provoca ruído na carroceria.
Em instantes esta orquestra contra o sono alheio, começa a emancipar minha irritação contida.
Advirto a senhora, que me olhando ostensivamente, nem responde, como é costume dessa gente mal educada.
Continuo inconformado e pensativo: o que será que tem dentro da sacola? Porque mexe e remexe?
Ensaio outra repreensão verbal...sem sucesso.
Tento um truque de concentração, mas minha mente inquieta não se aquieta.
Farfalha, farfalha, ronca, farfalha e range.
Uma orquestra ruidosõnica contra o meu sono reparador.
Farfalha, farfalha, remexe e mexe...ronca e farfalha.
- Senhora! O barulho está me incomodando.
A reposta foi uma mímica lacônica, que no meu entender alegava mal comportamento do saco...
Fico calado e continuo apoquentado.
Silencio, silencio, FARFALHA !!!
Incrédulo tento outra vez.
- Senhora, esta não é a sua casa, está incomodando. QUERO DORMIR um sono honesto !!
- Senhor, pode deixar ….Silencio, farfalha, silêncio, farfalha.
Silêncio, farfalha, farfalha, farfalha.
Senti falta do ronco !!!
Vencido, opto por escrever este texto,
para me inserir no contexto.
“Era uma vez uma mexeção em saco plástico,
que virou encheção de saco piroclástico...”
Um comentário:
Você sempre crítico e cômico .... adorei este texto, me deu a nítida clareza da cara da mulher ... bjs
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