01 julho, 2012

Meia ou Inteira


Tudo indica que o meu calcanho se rendeu ao anti-inflamatório.
Volto a ser um bípede sem rumo.
Já posso correr atrás das raparigas.
Atravessar a rua entre carros descontrolados.
Um pouco de alegria, me deixa triste.
É melhor dor que sangra,
e tira o foco daquela dor mais antiga, escondida.
As vezes o coração vazio contamina a cabeça oca.
Na rotina: o emprego, a trepada, o beijo com a boca.
No hiato: fica difícil achar trabalho, vontade de beijar na boca,
e alguém para ir ao cinema sem ter que escolher o filme.
Por enquanto o viável é me engajar com um personagem do filme novo do Woody Allen.

A moça da bilheteria indaga: - Meia ou inteira?
Peço meia entrada, e logo justifico:
- Esqueci o lado esquerdo do cérebro em casa,
pois nem sempre ele é bom companheiro.
Ela sorri de forma complacente e retruca:
- Entendi, é ingresso para terceira idade.
Balanço a cabeça, esboço resposta,
e percebo que fez falta a metade esquecida.
Também faltou alguém para amparar o ego combalido.
Na próxima vez vou usar Auto-atendimento.
Escamoteia a crise de ingresso na idade preferencial.
E ainda dá tempo de tomar um Fenobarbital.

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