15 novembro, 2012

TRANSFORMudança

Exótica, ruiva, com sardas e de maria-chiquinha, meu segundo ano escolar já me ensinava a primeira lição: paixão. No recreio a distancia compulsória entre as carteiras diminuia. Aos quatorze, já queria muito uma mulher, a mais bonita. Só acalentei o querer com o matrimonio, treze anos depois. Aos vinte e poucos bastava uma ninfomaníaca no trabalho. Aos trinta e cinco uma melancólica intelectual paralisa meu raciocínio e intercepta meu destino oficial. Aos quarenta uma boa transa é suficiente. Sem ternura. Hoje, basta um olhar, não predador, que me enxergue nesta selva social, já é pouco de paixão nesta loucura.

04 novembro, 2012

Besteiradas

Sou acordado por problemas mundanos...
A mulher feia quer atenção, e tenta atrapalhar o pedreiro que não olha para ela.
A faxineira me acusa de não prover lustra-móveis.
Um condômino quer ponderar o rateio do condomínio para quem não usa a piscina.
O balconista responde que o pão de ontem, ainda está fresco.
O porteiro abre o portão sem identificar o motivo da incursão.
Um café com sotaque parisiense é pago com o salário que desempregado não recebeu.
A moça quase bela, acredita na roupa que esta vestindo.
Eu penso estar acima destes mortais, mas definho em letargia imaginária.

Tambem acabo com formigas passeando pelos meus lábios, 
sedentos de um beijo anônimo, porém verdadeiro.
Onde fica guardada a essência das pessoas?
Quando a vida será algo alem de um boleto, de uma rotina e um amuleto ?

Uma mulher desocupada, fazendo coreografia de sobrecarregada.
O moleque pentelho é percebido pela mãe como hiperativo.
A saudade, tão doída, que parece cansaço.
Um momento, tão lento, que lembra uma foto embaçada.
Seria bom estar vivo...

02 novembro, 2012

Chore pela vida eterna

Desejos dispersos por corpos abandonados.
Desejos forjados, culpados, inventados.
Saio em busca do meu eu, mas encontro voce.
Jurado de morte, sem proteção, eu morro a cada esquina.
No conflito do homem mau que pratica o bem,
Contra o homem bom que pratica o mal,
não existe expectativa, nem vestígio de vida.
Hoje é feriado.
Uma homenagem ao finado premiado.
Liberado de estar presente agora e também nos dias futuros.
Só morto atinge o nirvana da liberdade.
Livre da escravidão cerebral.
Nem a propria, nem alheia.

Finalmente, uma famigerada enxurrada de sinapses, foi abortada pelos neuronios desligados.
Prazerosas ou desgostosas.
Morte é a natureza enganando a mente, para aliviar o coração.
Descansar para sempre, como manda a reza.
Desmorona toda aquela  organizada porção de moleculas, engendrando contra a entropia.
Aquilo que você chama de "eu" e leva o cérebro para passear, feito cão sem dono.
Finda apenas a estrutura funcional teimosa, arrogante e pseudo-pensante.
Os átomos continuam existindo para sempre, mesmo depois do defunto incinerado.
A agua evapora e vai refrescar outros corpos a esmo.
Não chore, porque nada morreu, apenas desestruturou e desaglomerou.

Morrer é estar dispensado da chatice de viver indefinidamente.
Porque ninguém suportaria a vida eterna consigo mesmo.