10 agosto, 2011

Companhia de viagem

Seis horas de monotonia, espremido e sacolejando, na melhor das hipóteses.
Todos assentos ocupados, menos aquele ao meu lado.
Era uma versão tupiniquim da Whitney Houston.
Sorri e logo dilacera minha inquietude.
Meu sorriso exagerado revela que já fui cativado.
Mais um olhar daqueles, me faria escravizado.
A paisagem dos primeiros quilômetros faz da prosa um pretexto para o carinho.
Sem saber o nome ou sobrenome, a idade ou seriedade.
Experimentamos a textura da pele, como tateando livro em braile.
Os arfares ocupam espaço na mudez entrecortada.
Ela alerta que vai colocar silicone onde a natureza já caprichou...
Num esforço de recompostura mostra fotos do ultimo desfile.
Eu aparento me interessar pelo que ela finge me mostrar.
Anoitece, esfria e o cobertor esconde o nosso calor.
Pequenos gritos sufocados denunciam bulinações sorrateiras.
A viagem de caricia desvia rumo pela malícia.
A luz da cabine acende, e apaga nosso fogo.
Chegamos ao meu destino, apenas uma escala para ela.
Promete que liga?
Me chama que eu vou...
Tem que ter pousada.
Comida da boa.
Presente para patroa.
Ser bem comida.
Que justifique mudar de vida.
Cicatriza ferida.
Me liga.
Desliga.
Despedida.

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