20 dezembro, 2008

Vidas de aluguel

Anseio por outra vida temporariamente.

A compra do ingresso garante meu transporte imaginário: Sentir sem arriscar!
A cada sessão de cinema, a experiência emocional sem o ônus vivencial.
Temos ainda a garantia de experimentação transitória, voltando sempre ao personagem real.

Após um filme dirigido pelos irmãos Coen (Queime depois de ler) os fantasmas emergem, mas rapidamente a realidade os dissipa de maneira perniciosa.
Converso com estranhos para certificar minha existência alem da tela.
A vida é rápida e faz do tempo uma brincadeira fugaz e incerta o suficiente para nos manter apenas curiosamente surpresos.

Nada garante o futuro com certeza absoluta.
Fico atordoado, mas ainda com enorme desejo de apostar no próximo instante.


Não é preciso empenho para estar vivo ou morto. Difícil é sobreviver...
Sobreviver é uma questão de esforço continuo para aumentar a probabilidade numa direção privilegiada dentre numerosas outras possíveis soluções.

Mas às vezes uma emboscada afortunada nos congela as entranhas:
Fluxo intenso de adrenalina, num átimo de paralisia que parece secular.
Em ritmo crescente o pulsante batuque cardíaco se alastra corpo afora.
O instinto aniquila a racionalidade por segundos, e rastreia possibilidades de êxito.

Aturdido, me defendo (de que!?) e disparo a metralhadora verbal.
Numa seqüência de rajadas eloqüentes e sufocantes.
Logo o arrependimento emerge.
E a cena já consumada, aguarda pacientemente o próximo movimento.

Parado.

[mlfb]

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