Diante de tanta euforia pré-fabricada, quem precisa de jogo? O país se tinge de verde-e-amarelo numa infinidade de produtos baratos dias antes, a mídia entra numa histeria antecipatória e num blablablá que insufla a certeza do favoritismo, o imaginário de todos está inflado de imagens de glória, de heroísmo, de futebol-arte... Com toda essa parafernália emotiva já armada, não há futebol que possa corresponder às expectativas.
E futebol, lembremos, é aquele esporte de certa forma modorrento, em que nada acontece por minutos a fio, exceto a troca de passes, o detalhe de um lance habilidoso, em que ficamos em compasso de espera, aguardando o imprevisível. Claro que o futebol também é, como nenhum outro esporte, uma usina de espetáculo, quando a genialidade de um craque consegue emergir, quando a alegria de um jogador é tão genuína que parece um poema, quando os torcedores expressam aquele amor irracional e ruidoso pelo time.
Mas é que nos aproximamos dos jogos em si, aqueles 90 minutos que decidem nossa sorte e nosso azar, exauridos de tanta emoção prévia que vai se instilando. Poucos de nós, os espectadores comuns, não escalados para pensar o futebol, não-especialistas, vão para a frente da televisão assistir a uma partida de futebol com os olhos bem abertos.
Não à toa que, entra Copa, sai Copa, Galvão Bueno está lá, firme e forte.
Ele é o homem da pirotecnia emocional (para quem, mesmo? Nós, a audiência? O meio? A mensagem?), do destempero (para o bem e para o mal), das bolas cantadas. Há sempre o equilíbrio do Falcão e a simpatia (ainda que, depois de rusgas, um tanto mais contida) de Casagrande para contrabalançar o exagero, mas não há destreza verbal nem sobriedade que consigam deter a enxurrada emotiva de Galvão.
E a Globo escalou novamente os coadjuvantes Pedro Bial e grupo Olodum para ajudar a construir esse clima quase sufocante de animação compulsória. O Olodum, que "anima a galera" no Pelourinho, exibe aquele brasilidade feroz, que não admite réplicas, enquanto nosso Chacrinha bossa nova, Bial, comete crônicas sentimentais em cima das impressionantes imagens das câmeras exclusivas. Haja coração. Ou paciência.
Antes de começar a Copa, esta coluna expressou o temor de que o massacre
midiático pudesse recriar o ritual do "sacrifício de Ronaldo", torcendo para
estar errada. Pelo jeito, não estava. Que droga!
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