Chego na hora marcada no escritório do advogado.
A assistente automaticamente me encaminha para sala de espera.
Uma revista e duas cadeiras distraem e confortam clientes,
como aquela mulher de presença marcante,
folheando mecanicamente uma revista com noticias vencidas.
Entreolhamos-nos durante um rápido cumprimento.
Embora o rosto recorde uma paixão de adolescência,
a resposta protocolar mostra indiferença a minha chegada.
A advogada avisa que chegou minha vez.
A mulher também se encaminha para a sala de reunião,
onde embora juntos, estamos separados por mundos diferentes.
Durante a coreografia oficial, a conversa é truncada pela escrivã,
que insiste na leitura de maneira inequívoca e quase monossilábica.
No ar apenas o monótono som das palavras escritas, digitadas e conferidas.
Somos dispensados da torturante revisão da verificação documental.
Descendo no elevador, novamente sujeitos ao hiato sonoro desconcertante,
durante a viagem espacialmente curta e temporalmente longa.
Hesito, mas tento uma conversa sem palavras e não correspondida.
De súbito digo que gostaria de conhecê-la melhor,
enquanto entrego meu cartão de visitas.
Ela balança a cabeça sem entusiasmo se afastando do meu pedido.
E sem hesitar, segue o seu destino me abandonando desarticulado.
Não sei por que ela continua me recordando alguém.
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Agora, longe do meu alcance, avaliando o trejeito percebo quem era!
Já fomos casados, tivemos filhos e nos separamos buscando ser feliz.
Hoje, com alguma maturidade, sei que:
Felicidade não existe.
O que às vezes aparece é:
Oportunidade para “ser feliz sem saber”.
Opção que às vezes descartamos por orgulho, estupidez,
ou quando o predominante cotidiano invade,
mescla e conduz nossa vontade.
Dissipando o “importante” e consolidando o “urgente”.
Ao fim de tudo não passamos de uma seqüência de tentativas de tentar ser,
aquilo que imaginamos querer ser.
(*)in≠
[mlfb]
Um comentário:
Só no poético para descrever a realidade nebulosa. Melhor saber colocar um dia do que nunca tentar e morrer com a duvida.
Bjos,
Flá.
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