Qualquer fingimento já é um fragmento de amor que vale a pena.
Só finge quem ama alguém, ou a si mesmo.
Conta ponto, no programa de milhagem da vida.
Os ligamentos estirados me tornam ainda mais inflexivel.
Tento correr mas vacilo, e quase um atropelamento acontece.
Sem desculpas a motorista arruma os cabelos para tras das orelhas (bom sinal).
O diagnóstico é feito com rapidez de especialista.
Veloz como um guepardo, ela também indica terapia: massagem!
Massagem? Só se for tântrica, penso sem esboçar sorriso.
Mora perto e pode fazer na casa dela mesmo.
Meu delirio ou a habilitação da moça estava vencida?
Piorei em segundos, para não parecer presa fácil e necessitada.
No elevador, um vizinho nos olha, incomodado pelo silencio ensurdecedor.
A massagem do tornozelo deriva para outros membros.
Aceito um mimo, ofertado com lábios agradecidos pela "não" ocorrência policial.
O porteiro me deixa sair, embora com desconfiança nordestina.
Esboça uma pergunta, contida pelo meu olhar de reprovação.
Deslizo quase levitando pelo quarteirão.
Logo tenho que atravessar novamente.
Espero o carro se aproximar com intenção de repetir tudo de novo.
(Como se tivesse fôlego!)
Desta vez doeu.
Ele não parou!
Tive que morrer ali mesmo.
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