Peço ao barbeiro para deixar apenas os fios pretos.
Ele arrisca a pergunta:
-Raspar careca?!?
Nem respondo, pois sinto no ar a palavra tintura.
Para retratar o vacilo e massagear meu cérebro,
a ultima edição da Playboy é colocada no meu colo,
e para dissimular o mimo vem junto um jornal diário.
Ambos fingimos que o tempo não passou.
Depois da cabeça literalmente feita,
Perambulo pelo Shopping, envolto naquele cheiro de vida artificial.
Impressionante, como isso me animou e quase me reviveu.
Na escada rolante uma conversa entre amigas:
-Vou rezar e pedir a Deus que perdoe os pecados dele...
Sorrindo para elas, penso: quem rezaria por ela?
Na liquidação, uma maquina que lava até 10 kilos de roupa.
Exatamente o quanto preciso emagrecer!
Será que a maquina me enxugaria?
Do outro lado uma TV 3D.
Questiono a utilidade, logo esclarecida pelo vendedor, com surpresa:
-Dá para ver as coisas saltando da tela.
Eu retruco: Ahh salto !!!
Imagino o efeito 3D em noticiário econômico: Débito, Dívida e Déficit
muito convincente...
A movimentação lembra um formigueiro.
Só gente comprometendo o tempo no futuro,
um boleto, um parcelamento, um financiamento.
A felicidade parcelada com juras de fidelidade.
Comprando o que nao vai usar,
mas que pensa precisar.
Vendendo o que nào tem,
para quem não pode pagar,
e vai presentear quem às vezes nem gosta,
que vai agradecer e não vai usar,
que vai ficar na gaveta cumprindo tabela,
na coreografia que engana quem quer viver bacana.
Sem grana.
Nem uma banana.
Neste Natal, não precisa confessar, comungar ou ver a missa do galo.
Basta prometer sozinho que nao vai repetir o inconfessável.
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