02 maio, 2011

Por um fio

Pego o cobertor para estancar o frio nublado.
Permeio por um fio de cabelo dela, languido e enrolado.
Já não basta memoria renitente...me perseverando.
Talvez ela tenha deixado o desgarrado de propósito.
Para me atacar de saudades,
como uma vingança retroativa.
O fio se emaranha e me tortura.
Cheira à shampoo para cabelos teimosos.
Corro para jogar água fria no rosto,
e livrar-me do pau-de-arara emocional.
Aperto sofregamente o tubo dental,
num movimento mecânico de higiene compulsiva.
Esfrego os dentes até clarear o pensamento.
Usava a escova dela, que se infiltrava na minha boca,
como um beijo espinhoso.
Um corretivo naquela que deveria ter ficado calada.
Ao invés de sufocar a amada com tanta verborreia descontrolada.
Não faltou amor, faltou silencio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Really nice!!!!
Dani Duarte