09 junho, 2008

Diversão mental, escravidão cerebral


O almoço dominical com meu filho nos leva casualmente ao interior de um templo do consumo – o velho Shopping Center.

Eu tento provocá-lo, numa conversa digestiva, e reclamo:
-Você acha que estes vorazes consumidores necessitam realmente de cada objeto adquirido?

Indignado com minha inocência, ele responde:
-Claro que não! Isto é assim desde os tempos que o homem abandonou caçar o jantar e começou a estocar várias refeições, que às vezes apodreciam sem consumo.

Sem perceber a profundidade da resposta, atuo novamente:
-Mas existem limites para estocar ou não?

Ele retruca:
-Limites físicos existem, mas o que as pessoas estão comprando é a sensação de estar vivo. Umas o fazem comprando no shopping, outras queimando combustível fóssil, derretendo borracha e arriscando a sua própria vida....numa corrida de Kart.

Eu finjo que estou morto, paro de reclamar disfarçadamente. Trocamos olhares e sorrisos característicos de sinapses prazerosas e divertidas.

Lembro do vídeo da Susan Blackmore, sobre o mecanismo replicador de
memes.(unidade de evolução cultural que pode de alguma forma se autopropagar).

Nossa mente, nosso cérebro.
Nosso conteúdo, nossa infra-estrutura.

Somos na essência uma serie de sinapses permanentes e ocasionais, profundamente orquestradas com finalidade de produzir serotonina, depois da temporária excitação mental.
De maneira ditatorial a maioria das mentes tenta aliciar e catequizar outras, para criar um cenário social ressonante e confortavel.
É um processo conjunto de manipulação e subserviência canibalesca e atávica, mediado pelo corpo e vestes num frenesi de relações físico-químicas.
Quanto mais mentes adestradas, escravizadas, e alinhadas com o nosso conteúdo, maior a probabilidade de êxtase cerebral.
Todos
nós nos relacionamos de maneira fundamentalista e mental.
Tão logo a mente reconhece a presença de outra, ela se utiliza de toda infra-estrutura possível, desde o cérebro-corpo-vestimentas-adereços para intermediar a seducao, num processo de catequese involuntária, onde a coexistência com alguns batráquios só nos causa irritação por não permitir expansão do cenário confortável para troca de unidades de evolução cultural.

As ofensas que a humanidade pratica sem querer.....

Será que este texto catequista, trará um pouco de paz à minha futura convivência com o leitor?


Um comentário:

Fernando C. Gorayeb Belem disse...

Você me envolve com certeza... só penso como penso porque aprendi a pensar com você! São poucos mas são o bastante para que você entenda o que eu quis dizer! Com muito carinho do seu incondicional admirador