09 outubro, 2007

Fim de noite

Da minha mesa eu percebo a companhia da solidão daqueles que não tem nada a perder.

Um chopp de graça não atenua a lucidez.

Uma garota na mesa ao lado fala sem parar, sem mascara e sem disfarces.
O namorado chegou e já foi usurpando espaço da garota insegura.

O casal mutuamente desinteressado toma um drink, como se a coreografia pudesse tornar a vida interessante.
Ainda assim eu invejo quanta paciência, deixando a esposa, não mais desejada, existir através das rejeições sucessivas, afirmando uma presença quase ignorada.

O rapaz recém-chegado continua sendo um intruso desagradável, quase constrangendo o grupo de amigas da aniversariante.

A esposa oficial vive sua maior aventura: tomar uma caipirinha que ajuda a diluir a falta de entrosamento e desejo, que no marido só passa como lembrannça.
Na coreografia de mãos entrelaçadas, não flui afinidade entre os dedos com unhas fortemente convexas e pintadas.

Tenho uma enorme curiosidade de saber por quê!!

A cantora segue seu ritual, cantando para quem não ouve.

Platéia sem idéia....

Uma japonesa low profile me distrai a atenção.
...Stay in the line... ah ah ah ….stay in the line…

O marido finge interesse na conversa, enquanto admira sorrateiramente a garota de passagem.
Os mais variados tipos atuando como animais em busca de um oásis na savana.

Por que as vezes, escravizamos nossa existência em função de alguém que sequer percebe a nossa presença?

Outra mesa, substitui os odores da fumaça de cigarro por cheiro da picanha, aquecida pacientemente no réchaud.

A musica ambiente agora é da década de 80 e desencadeia o sentimento de fazer parte do cenário ao invés de ser ator coadjuvante.

Um casal mal humorado invade mais outra mesa. Eu não aposto 10 centavos nesta relação.
Nem eles...Mas não faz mal, eles não ligam, terão o que comentar com os amigos...

O marido dá uns tapinhas nas costas, consolando a esposa, fazendo a coreografia que nos exigem nesta vida sem sentido.

Ao fim de tudo as pessoas tem a ingrata função de comprovar nossa existência , pois sem elas apenas seriamos um repositório de acontecimentos sem nenhuma vinculo emocional.

Ela não queria vir, mas era o aniversário da irmã. Ela não poderia ficar alheia...mas estava...
Quanto mais publico, maior o prestígio social !!!
Namoro sem diálogo!!

It is time to leave !!!

Eu comprometo a sanidade social do ambiente!

Vou pagar a conta do bar e diminuir a platéia.
Pena que não da para pedir a conta da vida, e encarnar uma nova existencia sem repetições.

Estou escrevendo baboseiras, enquanto algumas centenas morrem de fome, sem ter a oportunidade de saber que o importante é aquilo que pensamos sentir e não existe.

Bye

[mlfb]

2 comentários:

Unknown disse...

Belem..finalmente eu consegui entrar no seu blog..que felicidade..
Amei esse texto..muito real e triste..
te adoro muito mutio muito..
beijos
mah(filha da gislaine)

Anônimo disse...

Belém,

Me admira um cético, como você se auto-intitula conseguir poetizar até o que na realidade é uma desgraça. Fica até bonito!

Beijos da amiga
Daniella