Lá fora, movimentos coreográfados imitam a vida, enquanto aqui dentro, o austríaco Strauss ecoa. séculos depois. Ele codificou matematicamente suas sinapses musicais para serem reproduzidas com fidelidade anacrônica.
Ainda estou paralisado pela intensa dor, que permanece sempre presente, tornando-me ausente.
Em uma tarde de andanças mentais, viajo com os ouvidos no século 19, e com os olhos no século 21. Com meus olhos vislumbro pela janela do apartamento um horizonte nunca antes explorado. Nunca havia “ficado” com uma cantora; para mim, ela encanta a cada som, compasso ou amasso. O exercício da sedução me escraviza, engana, e me induz a pensar que a amo.
A cabeça dói, e a massagem não trouxe alívio. A angústia permeia a tarde, neblinando meus sentimentos.
No final somos desprezíveis miríades repletas de proteínas em sintonia com aminoácidos e minerais flutuando no restrito ambiente aquoso, trafegando pelo vácuo sem nos deixar perceber o vazio atraves do qual deslizamos pelo universo cheio de nada.
Nada que nos interessa, e ainda assim, nos emudece.
Tudo é fugaz, inclusive a natureza. Cansada da mesmice, inventa o processo de memorização. Memória nos escraviza visceralmente, sempre ansiando pelo futuro, considerando o passado. No universo, tudo é continuamente criado pelo passado que nunca mais vai existir, e o futuro permanece indeterminado aleatoriamente no longo processo estocástico da vida.
Já aconteceu em algum outro lugar? Obrigado, Einstein, pela relatividade restrita, que me deu esperança de buscar um referencial mais lento, onde encontraria o meu gêmeo mais velho, tornando-me capaz de me sentir mais jovem…um conceito relativo. Agora, a 9a. Sinfonia me encanta e se mistura na melodia com harmonia extasiante.
Alguém criou essa melodia para alimentar a própria alma e saciar a fome de muitas almas, centenas de anos depois; talvez este seja o único milagre da multiplicação.
A música muda para Unforgettable… OMG! percebo que não passamos de camundongos num laboratório errático em torno de uma massa estelar de quinta grandeza sem rumo, escorregando rumo ao centro da galáxia.
Nessa imensidão, concentramo-nos apenas no pequeno indivíduo, incapazes de ver além. Mesmo com as imagens do James Webb, percebemos frente à beleza cultivada pela mídia dispersiva idolattrando a bunda da Tiazinha,
Mergulhamos na vida sem viver, batendo recordes de morrer em uma cama hospitalar sofisticada, conectada à enfermagem, mas desconectada do simples prazer de viver a plenitude sem fulminar. Sempre Clarice me atropela. Vou parar porque isso é plágio.