26 maio, 2005

Memória com tecnologia

Dedilhar uma mensagem que ela recebe em segundos,
mesmo em deslocamento, não se fica imune ao laço tecnológico.
Antigamente era fácil esquecer,
pois não tinha tecnologia para reavivar a memória em alta fidelidade.

Atualmente não se permite esquecer,
Não permite afastar ou separar.
Permanecemos constantemente apaixonados.
A saudade transcende o sentir,
E começa desencadear uma atitude, que vai alem do coração.

Qualquer encontro pessoal esta a menos de 12 horas,
Ouvir a voz da amada não custa mais que um sorvete.

Como era fácil esquecer um namoro de ferias,
Uma aventura de viagem ou
Um encontro internacional
Será que inventarão um esquecedor eletrônico?
[mlfb]

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Memory with technology

Type a message and it will be received in seconds,
even if you are moving, you will not be immune to the technological bow.
In Old times it was easy to forget,
because it did not have technology to revive the memory in high fidelity.

Currently it is not allowed to forget,
it does not allow to move away or to separate.
We constantly remain gotten passionate.
Homesickness exceeds feeling,
and starts to unchain an attitude, that goes beyond of the heart.

Any meeting can be done in less than 12 hours distance,
To more hear the voice of your lover, do not the cost than an ice cream.

How was easy to forget one vacation affair,
A trip adventure or
An international meeting
Will they invent an electronic forgeter?

25 maio, 2005

Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.

À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.

Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

[Carlos Drummond Andrade 1902-1987]