03 junho, 2018

MORTE conVIDA

Procuro minha mãe no antigo corpo dela.
Mas sinto falta:
Da teimosia, que tanto me irritava,
Da religiosidade irracional.
Do chamar afetuoso do meu nome composto.

Forma dolorosa de perceber a irreversibilidade temporal.

Fica a lembrança forte do antigo habitante daquele corpo.
Que parece ter viajado e esquecido a carcaça para traz,
perambulando entre um cochilo e a próxima refeição.

Dormir e vegetar.
Dormir e a vida ejetar.
Ausencia com presença.
Morte com vida que insiste em continuar mesmo sem vontade.
Velório onde o defunto por vezes balbucia e fala sem sentido.

Durmo com esperança de que talvez amanhã
O aleatório conecte as antigas sinapses,
Ainda que seja apenas para lhe dizer:
Adeus

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