23 setembro, 2015

Tiquinho de gente



Visita aguardada sem cerimonia.
Porta entreaberta, sala invadida por um sorriso meigo, pedindo permissão para se entrosar.
De cara ela pergunta sobre a semente de feijão, flutua inquieta pela sala.
Os olhos cintilam com estranheza quando se deparam com um cockpit no meio da sala.
Mesmo sem resposta, dispara então a segunda pergunta: Posso dirigir um pouquinho?
Ficamos entretidos entre curvas, aceleradas, trocas de marcha e freadas calculadas.
Tudo executado com a pericia de neofito com fome de viver tudo.

E com toda maturidade que uma menina de 6 anos possui,
ela se levanta decidida, e me indaga sobre o proximo 'exercicio'.
Pega a caixa com feijão recem-inchado e algodão úmido,
como se fosse um prematuro no berçário, ou um bilhete premiado.
Chega à porta, pára e volta sem ninguem pedir.
Se inclina, beija minha testa.
Ato espontaneo, carinhoso, caloroso.
Ficamos enternecidos compulsóriamente,
e concordamos que ela voltará antes do aniversário de 7 anos.
Ainda sem respirar, atonito com que houvera,
Afogado naquele beijo
Aceno para aluna que me ensina a viver.

20 setembro, 2015

Passa...tempo entre olhares

Um olhar flutua repleto de desejo entre olhares saciados.
Ela também me olha...ou me encara com desprezo e convicção de que bastaria correr para se livrar do assedio de lobo mau, das minhas garras envelhecidas morosas e preguiçosas, porem famintas de tecido conjuntivo rígido e debutante.
Nem a truculência do meu olhar perverso, cheio de maldade 'boa', consegue mobiliza-la.
Ela já esta imobilizada pela vida...

Mais tarde, fui comprar um pouco de felicidade temporária.
Mas nem a sala escura sustentou as pálpebras abertas, cheias de falta de vontade.
Me surpreendo com alguem sentado ao lado, na montanha russa existencial.
Espero que não encene um grito apavorado, como orgasmo fabricado.
Mas que pegue na mão apertado e mostre no rosto um sorriso esbanjado.

Lufadas de vento me lambendo, vão resfriando minha carcaça oxidada.
Minhas ideias se espalham caóticas, como poeira de grãos cósmicos.
Dançando sem trégua em torno de um buraco negro,
Num cansativo ritual de sobrevivencia, quase sempre imortal.
Só a morte nos liberta da implacável vida, que autoritária, nos escraviza a viver.
Temos que ser no plural.
Temo ser no plural, apenas parte de uma manada.
Que nada...