30 outubro, 2010

Manhã nublada

Coração esfacelado,
Me obriga mentir,
para entender o verdadeiro.
Velório sem corpo.
Um desabamento emocional,
cria emergência na convivência.
Vida compartilhada engolida por cratera faminta.
A solidão irrompe veias e irriga pensamento.
Sinapse diluída em vento.
Solitária sensação de vida.
Onde metade parece o todo.
Saudade escurecendo amanhecer.
Frio, cinzento e rabugento.
Peço socorro no balcão da padaria.
Vem um café amargo.
Capto um olhar alegre, um sorriso indeciso.
Nossa conversa coloquial cria alento.
Então, migalhas se vão como vento.

[mlfb]

15 outubro, 2010

Sufocado

Ausente no vazio,
Onde meu silêncio ecoa.
Fluindo pela lembrança de uma vida alheia.
Precisando ressuscitá-la amanhã.
Urge viver modesta existência.
Que de mim se ausenta,
e aspira reviver no futuro, um passado singelo,
que já não se faz presente.

12 outubro, 2010

100chance

Vácuo mental.
Buraco espiritual?
Pensamento solitário.
Presença roubada
Ausência configurada.
Concessões ignoradas.
Justificativas contundentes.
Ainda assim a mente vacila,
num desleixo sem tamanho,
com a própria existência.
Corpo só mexe,
por inércia da vida.
Realidade acinzentada,
com sonoridade atenuada.
Lembrança colorida,
turva o pálido presente.
Nenhuma resposta cicatriza rejeição,
Construida na fertilidade.
A vida nos observa, abandonando o inviável.
Vencendo a síndrome de abstinência do outro.
Substituindo o 'juntos' por 'eu, comigo'.
Exaurindo turbulências, apaziguado pela fé.
Devoção para ver o que ainda não aconteceu.
Sem temer o equívoco da certeza construida,
sob pilares imaginários.

[mlfb]

Saco na viagem

Depois de exaustiva peregrinação (não religiosa), consigo uma passagem para voltar antes do final do feriado emendado. A solução conveniente ao bolso, logo se mostraria desconfortável para o corpo.

Na poltrona contígua um senhor japones, seguramente com mais de setenta anos, tinha conversa educada, modos tranquilos e muita estória para contar.

A cidade de Londrina fica para trás em minutos.

Na rodovia o ronco do motor quase despercebido, prometia uma viagem monótona.

Um estímulo sonoro se destacava no silencio. O farfalhar de um saco plástico manipulado histéricamente por uma senhora afoita, amedrontada e irriquieta no banco de trás.

Logo outro passageiro solidário à senhora inicia uma ressonante roncar.

Pista ondulada provoca ruído na carroceria.

Em instantes esta orquestra contra o sono alheio, começa a emancipar minha irritação contida.

Advirto a senhora, que me olhando ostensivamente, nem responde, como é costume dessa gente mal educada.

Continuo inconformado e pensativo: o que será que tem dentro da sacola? Porque mexe e remexe?

Ensaio outra repreensão verbal...sem sucesso.

Tento um truque de concentração, mas minha mente inquieta não se aquieta.

Farfalha, farfalha, ronca, farfalha e range.

Uma orquestra ruidosõnica contra o meu sono reparador.

Farfalha, farfalha, remexe e mexe...ronca e farfalha.

- Senhora! O barulho está me incomodando.

A reposta foi uma mímica lacônica, que no meu entender alegava mal comportamento do saco...

Fico calado e continuo apoquentado.

Silencio, silencio, FARFALHA !!!

Incrédulo tento outra vez.

- Senhora, esta não é a sua casa, está incomodando. QUERO DORMIR um sono honesto !!

- Senhor, pode deixar ….

Silencio, farfalha, silêncio, farfalha.

Silêncio, farfalha, farfalha, farfalha.

Senti falta do ronco !!!

Vencido, opto por escrever este texto,

para me inserir no contexto.

“Era uma vez uma mexeção em saco plástico,

que virou encheção de saco piroclástico...”


[mlfb]

03 outubro, 2010

Ponto final

À noite fomos ao teatro ver Albert Camus.
Depois, uma conversa amarga no balcão do bar.
Na cama, como sempre, enrosco selvagem.
Pela manhã um beijo frio,
Contrasta o calor das cobertas.
Um olhar de soslaio antes de fechar a porta.
Um romaneio com 10 razões, onde uma só basta:
- Não te quero mais!
Parece pouco, mas o incomodo é grande.
Ponto final.
Estamos livres do compromisso.
Acorrentados ao descompromisso.